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Descobri, aqui nos arredores, um lugar que já apelidei de “a melhor pizzaria ruim do bairro”.
É um desses estabelecimentos com cara de boteco, mas que assa pizzas nada pretensiosas e, muito importante, baratas.
Não é toda noite que você vai se dispor a pagar por uma pizza de grife. Tem noite em que você só não quer ir para a cama com fome, então o mais ou menos já está muito bom.
E o mais ou menos da melhor pizzaria ruim do meu bairro está bem acima da média dos mais ou menos.
A massa não é grande coisa, mas tampouco é um tijolo que nos dá pesadelos madrugada adentro. O queijo é bom, algo que tem muito valor. Já comi queijos bem piores em pizzas com pedigree.
Uma pizza básica custa cerca de R$ 45, metade do valor cobrado nos principados da zona oeste paulistana.
Mas isso é só para dois sabores: muçarela e napolitana, que lá é uma muçarela com rodelas de tomate e parmesão ralado.
Botou umas folhinhas de manjericão para virar marguerita, o preço já aumenta em 5 reis. Pepperoni custa R$ 75.
Mas aí rola que pepperoni é o sabor predileto do meu filho Então vamos lá: meia napolitana, meia pepperoni. Fecho a conta, Valor a pagar: R$ 75. Trinta mil réis a mais por meia dúzia de rodelas finas de salame marotamente salpicadas sobre metade da pizza.
Tem algo muito errado aí.
É imoral cobrar uma pizza meio a meio pelo sabor mais caro. Não existe motivo defensável para fazê-lo.
Não aumenta o trabalho do pizzaiolo. Não atrapalha o fluxo. Não é mais custoso para o estabelecimento.
Pizzarias são, dentre as operações de alimentação, uma das mais eficientes. Trabalha quase apenas com itens pouco perecíveis, um só tipo de comida, margem alta de lucro, desperdício mínimo.
Precificar a pizza pela média aritmética dos dois valores é um cálculo ridiculamente fácil. Se não fosse, as máquinas estão aí para resolver esse tipo de situação.
Alguns Procons, como o do Amazonas e o do Ceará, consideraram a prática abusiva. O Procon de São Paulo pensa diferente, então aqui é liberado tungar o cliente.
Não vou contar qual é a melhor pizzaria ruim e ladra do meu bairro porque pretendo continuar cliente, apesar de me sentir lesado e ultrajado.
A tal da pizza napolitana é boa e barata e, muquirana que sou, vou passar a turbiná-la com o pepperoni que tenho na geladeira.
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Fonte: Folha de São Paulo