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Já ouviu falar em festa agostina?
Vai lá, dá um Google na expressão: você verá que tem uma marcada para o dia 12 em Cabo Frio (RJ) e outra em Corguinho (MS), entre vários eventos com fogueira e dança de quadrilha.
A tal da festa agostina é uma prolongação da festa julina, que por sua vez representa a recusa em encerrar as festividades de São João quando acaba junho.
Daqui a pouco as festas juninas emendam com o Natal. Panetone com curau. Tender com paçoca de amendoim. Forró com Rudolph, a rena do nariz vermelho.
A festa não pode acabar: esta é a palavra de ordem.
Há longínquos 30 anos, fui passar o Carnaval em Salvador com um grupo de amigos –meio a contragosto, mas fui.
Fiquei surpreso quando, em plena Quarta-Feira de Cinzas, fomos acordados com a Timbalada fazendo algazarra na rua.
Naquela época, em São Paulo, o Carnaval já se expandia para a frente e para trás no calendário. De leve.
As Cinzas, por fé ou tradição, eram respeitadas. Os últimos espasmos da folia aconteciam no sábado seguinte.
Havia pré-Carnaval, mas nada comparável à maratona de blocos que temos agora. Alguns eventos esparsos nos fins de semana que antecediam a farra principal.
Neste ano, fui almoçar em Santa Cecília no primeiro domingo depois do Réveillon. Um cordão carnavalesco precisou se desviar das mesas de madeira armadas na calçada.
Semanas mais tarde, vi uma cena inédita no supermercado: panetones em promoção, quase vencendo, coexistiam nas prateleiras com ovos de Páscoa precoces.
Nesta toada, chegaremos a uma situação em que o Ano Novo cola no Carnaval, que é gatilho para começar a comilança de chocolate e bacalhau e aí já engatar nas festas juninas, julinas e agostinas, quiçá setembrinas também, com ponte para o Halloween e o Natal.
Um ano inteiro de felicidade, animação e empolgação. Só que não.
Se você ache a que vim condenar a alegria, aviso que é justamente o contrário: a festa interminável é o caminho mais curto para a frustração, a angústia e o tédio infinito.
A indústria força a barra para estender ao máximo a venda de produtos sazonais –ovo de Páscoa, panetone, o escambau. Nos estertores de julho, você topa com um canto do mercado dedicado às coisas de milho, amendoim e pinhão.
Não dá para botar tudo na conta da indústria alimentícia. Toda a sociedade está exposta a uma torrente de estímulos que nos mandam, além de consumir, aproveitar ao máximo cada segundo de tempo livre.
Meio que a gente se sente na obrigação de se divertir –caso contrário, é tempo precioso jogado fora.
E aí se contraria um dos pilares do bom-senso.
Uma regra básica que, sem termos aprendido, tentamos ensinar aos filhos: guardar determinados prazeres para ocasiões especiais. Não por moralismo, mas para retardar a erosão das sensações boas.
O especial deixa de ser especial quando é muito frequente. A diversão em excesso não diverte mais. É o mecanismo que faz degringolar um monte de coisas, do uso de drogas ao sexo no casamento.
A gente se esquece de que festa é bom, mas chegar em casa, tirar o sapato e descansar pode ser muito melhor.
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Fonte: Folha de São Paulo