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A máxima quanto mais velho melhor não se aplica a todos os vinhos –muitos deles se transformam em vinagre com a ação do tempo. Ela costuma ser verdadeira, no entanto, para os vinhos do Porto. Em 2022, foi criada em Portugal uma nova categoria para a bebida: a VVO, ou “Very Very Old” (muito muito antigo). O movimento desencadeou uma verdadeira caçada à barrica perdida.
Produtores de vinho do Porto começaram a visitar fazendas antigas na região do Douro em busca dessas raridades: vinhos com mais de 80 anos de idade. Quem está na área há várias gerações leva óbvia vantagem. Foi o que aconteceu com os Van Zellers, família de origem holandesa que produz Portos desde 1620. Recentemente, colocaram no mercado uma caixa com um trio de garrafas especiais, a The Rare Port Collection, que reúne um trio de vinho do Porto que descansava em barricas desde o século 19.
Francisca Van Zeller, uma das donas da empresa, não revela onde encontrou o vinho. “Foi numa antiga fazenda de uma família que conhecemos há várias gerações. Provamos o vinho e vimos que havia algo de muito valor ali.”
É possível saber exatamente a idade dos três vinhos da The Rare Port Collection? “Não dá para determinar com precisão, pois não há um cadastro. Mas conseguimos saber a idade aproximada por relatos familiares e batizamos cada uma das garrafas com base na época de produção.”
A primeira garrafa foi chamada de Liberty por ser da década de 1860, quando Abraham Lincoln (1809-1865) era presidente dos Estados Unidos. A segunda foi batizada como Family, por ser dos anos 1870, época do casamento dos trisavós da geração que atualmente gere a Van Zeller. A terceira se chama Poetry, por ser da década de 1880 – quando nasceu o poeta português Fernando Pessoa (1888-1935).
“O Porto, principalmente o do tipo Tawny, é um vinho feito para envelhecer”, diz Patrícia Jota, que tem pós-graduação em enologia na Universidade Católica do Porto. “A iniciativa da Van Zellers & Co é interessante porque contraria uma tendência imediatista que vinha dominando o mundo do vinho.”
A bebida que se sorve nas três garrafas da The Rare Port Collection é mesm o para ser apreciada aos poucos. Quase não se percebe o sabor adstringente dos taninos e a doçura típica dos vinhos do Porto traz em alguns momentos um sabor de mel. A cor se distancia do vermelho dos Portos jovens (do tipo Ruby) adquirindo a tonalidade mais escura, típica dos Tawnys.
Delimitada pelo Marquês de Pombal no século 18, a região do Douro é uma das mais antigas denominações de origem da Europa. Há mais de cinco séculos se produzem ali vinhos fortificados, criados com um olho no mercado britânico –os ingleses queriam uma bebida mais forte e que resistisse a longas viagens de barco.
Em sua produção, o Porto é caracterizado por receber aguardente vínica no início da fermentação por volta de 4% de teor alcoólico, explica Thiago Mendes, fundador da escola Eno Cultura, em São Paulo. Esse processo confere ao Porto um teor alcoólico superior e doçura, proveniente do açúcar residual da uva não fermentada.
O Porto do tipo Ruby, que inclui versões mais simples e também o Reserva, devem ser consumidos mais jovens, com perfil de sabor frutado. Já os Tawny são envelhecidos em pipas (tonéis de madeira de 28 a 50 mil litros), que dão cor acastanhada ao vinho, além de notas de fruta seca e caramelo. Podem ser simples como o Tawny e o Tawny Reserva ou super complexos com indicação de idade. Os nomeados como Tawny 10, 20, 30 a 40 anos são feitos com vinhos de diferentes safras, a depender do estilo e estrutura, e têm mais complexidade de sabores, continua Mendes.
Mais recentemente ainda, cerca de 2018, a região do Douro se notabilizou por produzir vinhos sustentáveis. A partir de Vila Nova de Gaia, cidade vizinha ao Porto, criou-se uma rede mundial para discutir boas práticas na produção de vinho, do ponto de vista da mudança climática chamada The Porto Protocol.
“Nesse mundo veloz, de tecnologia de ponta e redes sociais, as pessoas começam a valorizar momentos mais calmos. O vinho do Porto, que costuma ser bebido devagar depois das refeições, acaba por ser o pretexto ideal para desfrutar um tempo com amigos”, diz Francisca Van Zeller.
Uma garrafa de vinho do Porto de edição especial pode custar € 2.000 euros (cerca de R$ 12.200). Já os da categoria VVO ultrapassam o valor com facilidade. As três garrafas da The Rare Port Collection saem por € 22 mil euros (R$ 134.400). O conjunto inclui garrafas sopradas à mão, um decantador de cristal e gargantilhas de prata com o nome de cada vinho. A edição é limitada a 75 caixas e pode ser encomendada no Brasil por meio do site vanzellersandco.com.
Colaborou Matheus Ferreira
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Fonte: Folha de São Paulo