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Recebi um e-mail automático da SVB (Sociedade Vegetariana Brasileira) protestando contra o título de uma matéria veiculada pela agência de notícias da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
O texto em questão intitula-se “Veganos consomem teor adequado de proteínas e aminoácidos essenciais, mas dependem de ultraprocessados”.
Fui ler o original para ver de que se tratava. E concordei com os vegetarianos.
Vamos começar pela queixa.
A SVB argumenta que o próprio texto desmente o título.
Não é isso, tecnicamente, mas é isso se não formos tão técnicos.
O artigo da Fapesp afirma que os veganos –pessoas que abominam o consumo de qualquer artigo de origem animal– não apresentam déficit de ingestão de proteínas e aminoácidos essenciais. Ambos são nutrientes mais encontrados em carnes, ovos e laticínios.
O contraponto vem da constatação de que, para obter tais nutrientes, os veganos precisam recorrer à proteína texturizada de soja e a suplementos proteicos. Tecnicamente, os dois são alimentos ultraprocessados (e dá-lhe tecnicamente).
Ocorre que o próprio artigo diz o seguinte, citando o pesquisador Hamilton Roschel, da Faculdade de Medicina da USP, coordenador do estudo em questão:
“Embora estejam na mesma classificação de ultraprocessados, alimentos como PTS e suplementos proteicos não necessariamente são prejudiciais à saúde, o que não pode ser dito de alimentos ultraprocessados que contêm altas concentrações de gordura, açúcar, sódio, conservantes e aditivos artificiais, por exemplo.”
Pois é. O título, tecnicamente correto, dá a entender que os veganos recorrem a hambúrgueres e nuggets e outras podreiras plant-based.
A classificação Nova, criada pela própria USP para estabelecer parâmetros de alimentação saudável, é um modelo exemplar no mundo todo. Mas, como qualquer modelo, deixa algumas falhas pelo caminho da generalização.
Alimentos de função específica, por serem industrializados, acabam caindo no balaio dos ultraprocessados. Outro exemplo é o shoyu: tem um alerta por excesso de sódio, sendo que é um substituto do sal puro.
Enfim, o estudo da USP constata que os veganos consomem 13.2% de ultraprocessados (com as ressalvas feitas acima) em relação ao total de sua dieta. O restante da população bate nos 23,7%, quase o dobro.
Pelos critérios da classificação Nova, o título deveria apontar que os veganos têm uma alimentação mais saudável do que os consumidores de alimentos de origem animal. Como o título que dei a este texto.
Para evitar outras distorções hermenêuticas, isso não se dá pelo fato de evitarem produtos de origem animal. Veganos são, também pelas restrições que se impõem, pessoas especialmente ciosas no que diz respeito à alimentação.
E estão, em geral, no topo da pirâmide social.
Mas comem melhor do que nós, carnívoros. Isso não dá para refutar.
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Fonte: Folha de São Paulo