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Há algo particular da cena gastronômica de São Paulo que talvez não encontre correspondência em outras cidades —a constante prática de batizar seus drinques e pratos com nomes de celebridades. Exemplos não faltam, das atrizes da Globo e subcelebridades que nomeiam sobremesas no jocoso Paris 6, ao Peixe Lina Bo e Mignon Paulo Mendes, em referência aos arquitetos, no Café Artigas, no Campo Belo.
As relações entre o que é vendido e os homenageados ficam na subjetividade de quem assina o cardápio e na maioria das vezes podem não fazer muito sentido. Levando essa prática em consideração e já antevendo essa possível crítica, a bartender Michelly Rossi encerra a apresentação da nova carta de coquetéis do Bar dos Arcos, essa inspirada na artista plástica Lygia Clark, dizendo que a relação da artista com os drinques está na sensorialidade de suas obras e não na inspiração direta de cada coquetel com o nome que este carrega.
O site do bar até tenta explicar cada obra que inspira a sua respectiva bebida, mas, assim como em tantos exemplos da capital paulista, buscar as referências dos trabalhos de Clark nos coquetéis ofertados é esforço em vão. Mas Rossi se redime. A bartender com quase 20 anos de carreira, que chegou a assinar a carta do Fel, no centro de São Paulo, e da Revo Manufactory, em Santos, no litoral paulista, não erra na composição dos drinques apresentados, todos servidos em taças e portas-copo inspirados na artista.
Quanto às criações da bartender, o Geometria Sagrada, que empresta o nome da obra “Geometria Amorosa”, leva gim, redução de jabuticaba, suco de limão e espuma de água de grão-de-bico (R$ 37). É um drinque interessante, em que a textura da espuma complementa os sabores cítricos da jabuticaba com o limão. Abrigo Poético (R$ 59), que leva a obra homônima como referência, à base de saquê, licor de ameixa e vermute seco é também uma agradável surpresa
A carta também toma proveito de diversos ingredientes nacionais, desde o jambu usado para infusionar a vodca no drinque O Eu e o Tu (R$ 49), que consegue manter proporções perfeitas para que o sabor da erva amazônica não se sobressaia aos demais componentes, até a cachaça, que é infusionada em gengibre para fazer o A Morte do Plano (R$ 39), e acompanha um xarope cítrico com extrato de capim santo para formar o Casulo (R$ 35).
Talvez a maior surpresa fique por conta do drinque Os Bichos Não Têm Avesso (R$ 69), com clara referência ao Bloody Maria, uma variação do Bloody Mary com tequila no lugar da vodca. A receita mistura Don Julio blanco, Jerez fino, vermute seco, água de tomate com tucupi preto e vinagre de arroz para formar um dos melhores coquetéis da carta.
As homenagens a Lygia Clark ficam apenas nas bebidas. Para mitigar os efeitos do álcool, é possível pedir o queijo camembert envolto em massa e assado, acompanhado de castanhas, mel e torradas (R$ 63), e também o tartare de filé mignon, que vem com aïoli e um biscoito crocante de sagu (R$ 55).
O êxito da nova carta do Bar dos Arcos certamente não se ancora na temática das artes plásticas, mas recai na pesquisa e trabalho de Rossi, que apresentaria coquetéis excepcionais, seja em qualquer tema que for.
Bar dos Arcos
Pça. Ramos de Azevedo, S/N (Subsolo do Theatro Municipal de São Paulo), Centro, região central. Ter. das 19h às 2h; Qua. à qui., das 18h à 0h; Sex. a sáb, das 18h às 3h.
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Fonte: Folha de São Paulo