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Aos 81 anos, Roberto Rodrigues é uma das principais autoridades do agronegócio brasileiro. Ex-ministro da Agricultura no primeiro governo Lula, foi secretário de Agricultura de São Paulo em 1993 e 1994, no governo de Luiz Fleury (PMDB), quando criou a Agrishow, pouco após cofundar a Associação Brasileira de Agronegócio (Abag).
“O presidente da Abag, Ney Bittencourt de Araújo, era muito meu amigo. Eu falei: Ney, eu não tenho dinheiro nem flexibilidade para fazer a Agrishow, mas eu cedo a Estação Experimental, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), em Ribeirão Preto, para o evento. Porque a cidade é bem servida de hotéis, aeroporto, estradas. Há 30 anos, Ribeirão era chamada de Califórnia brasileira, era o centro nevrálgico do agronegócio”, conta Rodrigues à Gazeta do Povo.
A primeira edição do evento foi um sucesso, mas no ano seguinte, relembra Rodrigues, depois que ele deixou o governo, o evento fracassou por problemas de gestão e passou a ser conduzido pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), até hoje responsável pela Agrishow.
Três décadas depois, este não só virou o maior evento do agronegócio do país, mas de toda a América Latina – e o terceiro do mundo. Os números impressionam: a edição de 2024, que vai até esta sexta-feira (3), contempla mais de 800 marcas expositoras. Espera receber 195 mil visitantes e movimentar mais de R$ 500 milhões. A edição de 2023 teve um recorde de R$ 13,29 bilhões em negócios fechados.
Há 30 anos, máquinas usadas no campo brasileiro estavam defasadas
Rodrigues afirma que a principal contribuição da Agrishow para o agronegócio brasileiro foi a modernização do campo, tendo em vista que, no ano de sua criação, as máquinas importadas utilizadas pelos produtores nacionais eram defasadas em aproximadamente 10 anos quando comparadas com o que era utilizado nos países exportadores.
“Nosso parque mecanizado era velho e a Agrishow mostrou que era preciso mudar, gerando uma política pública que permitiu um salto extraordinário de produtividade no campo. No final da década de 1990 e início dos anos 2000, o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) criou o Moderfrota, um financiamento grande coordenado pelo BNDES que permitiu um aumento de tecnologia e produtividade”, diz Rodrigues.
“Antes da Agrishow, as feiras eram estáticas, tinham máquinas expostas, mas que ficavam paradas. A Agrishow é dinâmica, as máquinas trabalham e operam e o agricultor consegue avaliar se servem para ele. Depois dela, surgiram outras feiras pelo Brasil que seguiram o mesmo dinamismo”, completou.
Agrishow: palanque político para atrair o agronegócio
Esse salto de produtividade fez com que o agronegócio crescesse economicamente e atraísse o interesse político. Rodrigues, assim como os organizadores do evento, possui uma postura diplomática em relação à polarização existente entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que inevitavelmente se reflete no agronegócio brasileiro e na Agrishow.
“Há uma polarização que infelizmente está difícil de acabar”, analisa ele. “As lideranças rurais se esforçam muito para acabar com isso, porque não interessa para ninguém. O que interessa para o Brasil é um agro competitivo, eficiente, produtivo, que ganhe cada vez mais espaço no cenário global”, complementa.
Na edição de 2023 da Agrishow, o governo federal cancelou participação de representantes e não anunciou o Plano Safra 2023/2024 após ter se sentido “desconvidado” da abertura devido à presença de Jair Bolsonaro. Até suspensão do patrocínio do Banco do Brasil foi anunciada e a organização da Agrishow cancelou a abertura do evento para evitar mais problemas.
Neste ano, há uma tentativa de deixar as desavenças ideológicas de lado e as autoridades do governo federal, com exceção do presidente Lula, estiveram na abertura realizada no domingo (28), pela primeira vez em um dia fora do calendário oficial da feira.
Entre os presentes estavam Geraldo Alckmin (PSB), vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços; Carlos Fávaro, ministro da Agricultura e Pecuária; Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário; Luciana Santos, ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação; além da presidente da Embrapa e autoridades do governo estadual.
“A maior feira da América Latina não pode ser ignorada pelo governo, estamos falando de um setor que responde por 25% do PIB, que gera empregos, um saldo comercial altíssimo e preserva nossas reservas cambiais. É muito importante para ser esquecido e maltratado pelo governo. É quase que uma obrigação dos governos federal, estadual e municipal estarem presentes. Não é inteligente desprezar a agricultura”, diz Rodrigues.
Apesar da tentativa da organização de manter um ambiente neutro, o palanque político foi inevitável. Bolsonaro teve espaço para discursar no primeiro dia do evento, na segunda-feira (29), ao lado de Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, e de Ronaldo Caiado (União Brasil), governador de Goiás, possíveis sucessores da direita em 2026 caso o ex-presidente permaneça inelegível. Em discurso, o ex-presidente criticou ministros de Lula acusando-os de falta de “qualificação” e do “mínimo de moral” para exercerem suas funções.
Demandas do agro ao governo Lula
Um dos pontos de maior crítica de Rodrigues ao governo Lula é o baixo volume de recursos públicos direcionados ao Seguro Rural. Trata-se de uma subvenção que o governo dá ao prêmio do seguro, responsável por mitigar danos aos produtores em casos de sinistros, como em falta de chuva. Dessa maneira, o produtor e o governo dividem o pagamento do prêmio.
“Esse ano tivemos o El Niño, eu avisei lá atrás que era preciso colocar dinheiro no seguro rural, R$ 3 bilhões só para começar, porque na verdade eram necessários R$ 5 bilhões. O governo colocou só R$ 1 bilhão, é menos de 1% do PIB para um setor tão importante. Em setembro acabaram os recursos”, diz ele. “O Plano Safra é muito bom, mas faltou o seguro rural e deu problema, produtores sofreram muito e quebraram.
“E aí vem também a recuperação judicial, que não é uma coisa interessante, mas todo mundo fica usando. Falta o governo olhar de maneira estruturada. Por exemplo, não adianta ter crédito rural abundante se os juros forem altos”.
Roberto Rodrigues, ex-ministro de Agricultura do 1º governo Lula
Outra demanda é em relação a medidas mais severas contra os movimentos de invasão de terras. “O MST incomoda muito o agro, é muito ruim, muito difícil, traz insegurança no campo. Por isso é importante a posição dos governos estaduais. Em São Paulo o Tarcísio está sendo firme, em Minas Gerais o [Romeu] Zema (Novo), em Goiás o [Ronaldo] Caiado (União), no Mato Grosso do Sul o Eduardo Riedel (PSDB), no Paraná também”, cita Rodrigues.
“Os governadores dos estados estão tomando posições mais firmes contra as invasões, que são ilegais assim como o desmatamento. Tudo o que for ilegal tem de acabar”, defende ele.
Investimento em Ciência e Tecnologia
Questionado sobre as medidas anunciadas por Alckmin na abertura da Agrishow, como o lançamento de um novo título de investimento, a letra de crédito da indústria e do desenvolvimento (LCD), Rodrigues afirmou que elas são boas, mas não fundamentais.
“Claro que as notícias são boas, mas não são fundamentais. Fundamental é o seguro, que ninguém falou. É tecnologia, ampliar e provisionar os recursos para a Embrapa. Nada contra as medidas anunciadas, mas falta apoio para a agricultura”, diz ele.
Em relação ao governo Tarcísio, Rodrigues afirmou que tem insistido no tema da Ciência. “A Embrapa é de longe nosso centro de tecnologia, mas o pai dela é o Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, ele foi criado por Dom Pedro II. Lá que nasceu a tecnologia brasileira”, diz ele.
“Nos últimos 20 anos, o governo paulista largou o agronômico, o biológico. A pesquisa paulista perdeu espaço porque o governo estadual não deu atenção para a tecnologia, e eu lutei por isso a vida inteira. Hoje um pesquisador do IAC ganha metade do que ganha um pesquisador da Embrapa. Está errado, não há futuro em um país sem Ciência”, defende Rodrigues.
Ele aposta que o governador Tarcísio vai rever essa questão. “O secretário estadual de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, Guilherme Piai (Republicanos), anunciou na abertura da Agrishow que vai rever toda a carreira profissional dos pesquisadores e dar uma remuneração adequada. Isso é fundamental”, afirma.
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Fonte: Notícias ao Minuto