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Mesmo com o foco na China e em uma política econômica mais protecionista, uma vitória do republicano Donald Trump nas eleições presidenciais americanas, marcadas para 5 de novembro, pode ter impacto sobre a economia brasileira, apontam especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo.
A disputa pela Casa Branca está acirrada. O rastreamento de pesquisas realizado pela revista britânica “The Economist” mostrava, no domingo (28), um empate técnico entre Trump (45% das intenções de voto) e o atual presidente e candidato democrata Joe Biden (44%).
A expectativa do economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, é de que haja muito mais protecionismo por parte dos Estados Unidos em caso de eleição de Trump – que adotou já em sua primeira eleição, em 2016, o lema “Make America Great Again” (“torne a América grande novamente”, em português), usado pela primeira vez pelo também republicano Ronald Reagan, em sua campanha de 1980.
Ele faz outro alerta, mostrando que o cenário internacional está muito mais complexo do que era no primeiro mandato de Trump, entre janeiro de 2017 e janeiro de 2021. “Há uma série de questões em jogo: temas como inteligência artificial, semicondutores e guerra cibernética estão em evidência”, afirma.
O professor de finanças e controle gerencial do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppead/UFRJ), Rodrigo Leite, diz que é esperada uma retomada da guerra comercial com os chineses, assim como ocorreu na primeira gestão. Os especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo são unânimes em apontar que ela pode ser muito mais intensa desta vez.
Exportadores para os EUA podem entrar na mira
Não é só a China que vai entrar na berlinda. A diretora de macroeconomia e sócia da Tendências Consultoria, Alessandra Ribeiro, diz que todos os países que exportam para os Estados Unidos podem ser afetados em uma gestão Trump: “Com uma tendência a uma política protecionista e o estimulo à volta de negócios para os Estados Unidos, não dá para minimizar esse risco”.
No Brasil, alguns itens que correm mais risco de serem sobretaxados, segundo ela, são o aço – a exemplo do que ocorreu no primeiro governo do republicano –, máquinas e equipamentos e suco de laranja.
Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que, nos três primeiros meses do ano, o Brasil exportou US$ 9,8 bilhões para a maior economia global. É um crescimento de 19,5% em relação ao primeiro trimestre de 2023. Os produtos mais comercializados foram petróleo, aço, café, ferro fundido e máquinas, como pás mecânicas, escavadoras, carregadoras e pás carregadoras.
Mas também há possibilidade de ganhos para o Brasil. O recrudescimento da guerra comercial entre as duas potências pode causar impactos favoráveis para o agronegócio, diz Leite. A China pode ampliar a parceria de negócios com o Brasil, comprando mais produtos daqui, em detrimento dos Estados Unidos. Em alguns produtos, os dois países são concorrentes, lembra Vale.
No primeiro trimestre deste ano, as exportações do Brasil para a China foram 9,9% maiores do que no mesmo período do ano passado. Elas atingiram US$ 24,3 bilhões. Os principais produtos vendidos para lá foram soja triturada, petróleo, minério de ferro, carne bovina e pasta de celulose.
“Nessa disputa entre as duas potências globais, o Brasil está em uma posição confortável. Está longe do alcance delas e é considerado o celeiro do mundo”, destaca o economista-chefe da MB.
O professor da Coppead/UFRJ aponta que a China também vê um grande potencial consumidor no Brasil. As importações de produtos chineses nos três primeiros meses do ano somaram US$ 14,4 bilhões, 13,1% mais que na mesma época de 2023. Os principais produtos comercializados foram semicondutores, automóveis de passageiros, telefones celulares, circuitos integrados eletrônicos e inseticidas.
Corte de impostos nos EUA pode atingir Brasil
Um movimento de curto prazo que Donald Trump pode promover na economia norte-americana, a exemplo de outros presidentes republicanos, é o corte de impostos. Ribeiro, da Tendências, diz que a implicação é de mais crescimento na economia americana, fortalecendo o dólar.
Nesse cenário, crescem as possibilidades de uma desvalorização do real, o que favorece um aumento na inflação no Brasil e cria um estímulo para o aumento nos juros por aqui. “A barra sobe”, diz ela.
A economista aponta que no longo prazo a estratégia de corte de impostos se mostra contraproducente, pois contribui para deteriorar as contas públicas norte-americanas, o que, por sua vez, acaba enfraquecendo o dólar.
Segundo o Congressional Budget Office (Escritório de Orçamento do Congresso, na sigla em inglês), a última vez que os Estados Unidos registraram superávit primário (diferença entre o que é arrecadado e o que é gasto pelo governo, excluídas as despesas com juros) foi em 2007. Desde então, a maior economia mundial vem registrando déficits.
Mantidas as atuais condições, o déficit total pode chegar a 8,5% do PIB em 2054. Em 2022, foi de 5,2%. “É um risco fiscal expressivo”, salienta a diretora da Tendências.
Relações diplomáticas mais frias com Trump
Os especialistas também projetam relações diplomáticas mais “frias” entre Brasil e Estados Unidos em um eventual segundo mandato de Trump. Os presidentes dos dois países estão em espectros políticos opostos, dizem os especialistas.
Assuntos que fazem parte da atual agenda bilateral, como questões ambientais e transição energética, tendem a ter quase nenhum espaço na agenda do republicano.
Mesmo assim, Sergio Vale aponta que os Estados Unidos vão dar uma atenção “relativa” ao Brasil. “O país é importante no contexto geopolítico regional”, diz.
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Fonte: Notícias ao Minuto