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O mural desenhado por Ziraldo em 1967 no Canecão, casa de shows no Rio de Janeiro fechada desde 2010, está em estado de abandono.
O cartunista morreu na tarde de sábado (6), em sua casa no Rio de Janeiro, aos 91, de falência de múltiplos órgãos.
A obra, conhecida entre os admiradores do cartunista como “Última Ceia”, tem seis metros de altura por 32 metros de largura, e foi feito no salão do Canecão quando este ainda era uma cervejaria.
O Canecão foi durante décadas a principal casa de shows da cidade, com apresentações marcantes como as de Tom Jobim, em temporada ao lado de Vinícius de Moraes, Toquinho e Miúcha, em 1977, e Elymar Santos, que em 1985 pagou do próprio bolso a locação da casa.
A parede do salão é tomada por personagens bebendo chope, dispostos sobre a mesa como os apóstolos de Cristo em “A Última Ceia”, de Leonardo da Vinci. Há um centauro com uma caneca de chope e um astronauta vaga pelo espaço bebendo de canudo. São Jorge e o dragão brindam na lua, e animais na arca de Noé sorriem com copos de cerveja nas mãos.
O Canecão foi fechado em 2010 por conta de batalhas na Justiça entre o antigo administrador Mario Priolli e a Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ, dona do terreno em Botafogo. Ao lado do Canecão está o campus da Praia Vermelha e o centro psiquiátrico Instituto Philippe Pinel.
Desde o encerramento das atividades, a obra de Ziraldo, que já havia sido danificada quando a casa de shows estava aberta, foi abandonada de vez. As pinturas perderam a cor e foram cobertas por camadas de massa. Há um prego na cabeça de Jeremias, o Bom, um dos principais personagens do cartunista.
O documentarista Guga Dannemann visitou as antigas instalações do antigo Canecão para a gravação do filme “Ziraldo: Uma Obra que Pede Socorro”, de 2020.
“Calculo que somente 30% da obra ainda existe. Os outros 70% se perderam. Há ladrilhos, cimento, poeira. O Mário Priolli chegou a instalar uma arquibancada no Canecão uma época e furou alguns personagens do painel”, afirma o diretor do filme.
No ano passado, a UFRJ anunciou a concessão do novo Canecão. O consórcio Bônus-Klefer venceu o leilão, com lance final de R$ 4,3 milhões. Por contrato, a empresa deve realizar intervenções no valor de R$ 181 milhões, em troca da concessão do espaço por 30 anos. Não há prazo para a conclusão da obra. Atualmente, o Canecão está fechado, coberto por tapumes.
Para o painel de Ziraldo, o edital prevê a restauração do original, preservando os traços do autor. O trabalho de recuperação deve contar com a ajuda de estudantes da Escola de Belas Artes. A fachada do Canecão também terá a reprodução integral da obra de Ziraldo. Um projeto similar foi anunciado em 2015, mas não houve restauração.
O consórcio deve ainda dar contrapartidas à universidade, como a construção de um restaurante universitário no campus e o espaço Ziraldo, sala de cultura para apresentações de música, dança e exposições.
Menos de uma década após lançar “A Turma do Pererê”, em 1958, um marco na história dos quadrinhos brasileiros, Ziraldo se inspirou em obras de Da Vinci e Pablo Picasso para construir a “Última Ceia”.
“Aquele mural é o ‘Guernica’ de Ziraldo. Pelo que ouvi e vi, ali ele consuma-se um gênio”, diz Dannemann.
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Fonte: Uol