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A edição da feira que comemorou os 20 anos da SP-Arte, no Pavilhão da Bienal, terminou neste domingo, em São Paulo, com alta nas vendas, segundo um levantamento prévio feito pela reportagem junto às galerias. O balanço final será divulgado pelo próprio evento nos próximos dias.
A maioria dos galeristas nacionais consultados comunicou aumento que varia de 30% a 100% nas vendas. Entretanto, obras como “O Guerreiro”, de Maria Martins, à venda na Galatea, por R$ 8 milhões, uma das peças mais caras da feira, ainda estavam sendo comercializadas na tarde de domingo.
A criadora e diretora da SP-Arte, Fernanda Feitosa, avaliou a edição como “quase perfeita”. Segundo ela, o evento e o mercado chegam a um momento de maturidade. “São 20 anos em que cada vez que a gente se sentiu com musculatura foi dando um passo.”
Feitosa aponta uma série de desafios para o futuro. Um deles é em relação à questão da autenticidade das obras.
Neste ano, conforme revelou a reportagem, a galeria OMA, de arte contemporânea, trouxe à feira uma obra atribuída a Tarsila do Amaral à venda por R$ 16 milhões —a peça teve sua autenticidade contestada e agora está sendo analisada.
A pintura não estava exposta na galeria, mas guardada numa mala. De acordo com Feitosa, o quadro não constava na lista de peças apresentada pela galeria para ser aprovada na feira. “Nós temos um processo bastante rigoroso de seleção das galerias, de forma a garantir a idoneidade, a seriedade e a diversidade. Mas as feiras não têm ferramentas nem estão equipadas [para verificar a autenticidade]”, afirma Feitosa, que vê o como um problema que atinge as demais feiras do segmento.
Outro desafio apontado pela diretora da SP-Arte diz respeito à questão tributária. Até o ano passado, obras nacionais ou estrangeiras importadas, no valor de até R$ 3 milhões, contavam com isenção no ICMS para comercialização nos dias da feira. A renúncia do imposto estadual, que vigorava desde 2012, era voltada a obras comercializadas por galeristas do estado de São Paulo ou vendidas para moradores do estado.
A feira foi informada só na quarta-feira da semana passada a não concessão do benefício, que impactou galerias como a Sur, do Uruguai, que vende trabalhos de artistas como Joaquín Torres García.
“É um golpe muito duro. Os impostos de importação são muito caros no Brasil”, afirma o galerista Martin Castillo. A Sur foi a primeira galeria estrangeira a participar da SP-Arte e está na feira desde sua primeira edição, há 20 anos.
A galeria Continua —com escritórios em diversas cidades do mundo— também afirma ter sido afetada pelo imposto nas vendas. “Foi bom o resultado. Não foi maravilhoso”, afirma Akio Aoki, da galeria. A Continua representa no Brasil o italiano Michelangelo Pistoletto, um dos últimos representantes vivos do movimento da arte povera italiana, e mostrou duas obras suas, que não conseguiu vender. “Os impostos inviabilizaram a venda dessa obra”, diz Aoki.
A galeria Nara Roesler também sentiu o efeito da tributação, apesar do bom desempenho. A casa vendeu uma pintura de 2012 de Tomie Ohtake, artista que estará na Bienal de Veneza, por mais de R$ 1 milhão. Outras duas obras —dos artistas Daniel Buren e Julio Le Parc— foram vendidas por um preço semelhante.
“As vendas foram fortes, mas a perda da isenção fiscal do ICMS durante a feira comprometeu, especialmente, a venda de obras de artistas estrangeiros, que têm uma carga tributária enorme na importação. Vendemos obras de diversos artistas, desde os mais estabelecidos como Abraham Palatnik e Artur Lescher, quanto de artistas mais jovens, como Manoela Medeiros e Elian de Almeida”, afirma o galerista Alexandre Roesler.
Feitosa diz que a renúncia do ICMS nos últimos 11 anos contribuiu para a internacionalização da feira e do próprio mercado brasileiro de arte.
“A isenção criou condições para que as grandes galerias internacionais viessem, para que trocas [entre os atores brasileiros e estrangeiros] ocorressem. A isenção é uma oportunidade para que o Brasil continue inserido no mercado internacional em condições de menor desigualdade.”
Apesar disso, o resultado foi positivo para a maior parte das galerias. A Mendes Wood DM trouxe uma seleção de artistas que estarão na Bienal de Veneza, como a mineira Sonia Gomes e o baiano Rubem Valentim, artistas contemporâneos como Lucas Arruda e a obra “Power Tower”, da americana Lynda Benglis, artista exibida pela primeira vez numa feira de arte brasileira.
A seleção foi bem recebida. “Todos foram vendidos. A Lynda está em negociação”, de acordo com a diretora da Mendes Wood, Isadora Ganem. “Foi melhor do que ano passado, que foi muito bom.” Ela estima que o aumento nas vendas tenha sido de 40%, mas o número deve aumentar com a venda das edições de Benglis.
Thiago Gomide, da Gomide&Co, reportou um aumento de 100% em relação a 2023. A obra “This Revolution Will Not Be Televised”, de Rirkrit Tiravanija, sobre o assassinato de Marielle Franco, ainda estava em negociação no domingo.
André Millan, da galeria Millan, afirmou que foi muito bem nesta edição, com um crescimento de 50%. Entre as obras vendidas está a instalação “Blue Tango”, de Miguel Rio Branco, composta por 16 peças, criada há 20 anos.
Galerias tradicionais, como a Pinakotheke, voltada ao mercado secundário, e galerias mais jovens, como a Verve, do setor primário, comunicaram um aumento semelhante nas vendas, em torno de 30%.
“Senti uma maior presença de estrangeiros”, diz Ian Duarte Lucas, da Verve, que vendeu três obras para colecionadores da França, dos Estados Unidos e da Suíça. A Pinakotheke vendeu três trabalhos por mais de R$ 1 milhão.
A feira teve público estimado de 30 mil, como no ano passado. Os ingressos se esgotaram no sábado, como em 2023.
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Fonte: Uol