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Depois de especialistas em Tarsila do Amaral apontarem que uma tela atribuída à pintora e posta à venda nesta semana pela galeria OMA na feira SP-Arte é falsa, os herdeiros da artista, responsáveis pelos seus direitos autorais, tinham uma reunião marcada nesta sexta-feira com um perito em obras de arte na tentativa de determinar se o quadro foi ou não feito por ela.
Paulo Montenegro, um dos responsáveis pelos direitos de Tarsila, conta que a família desconhecia a obra e diz não ter como atestar a sua veracidade. Os herdeiros da pintora chamaram Douglas Quintale para estabelecer um método de checagem de autenticidade e aplicar o processo tanto neste caso quanto em relação a outros trabalhos da artista que possam vir a ter a autoria questionada.
Técnico químico e advogado, Quintale é perito no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, onde faz análises científicas de obras de arte há mais de seis anos. Segundo ele, uma perícia leva em conta a documentação da obra e sua proveniência, critérios artísticos —como o traço do artista— e também exames de laboratório de tecido, madeira, tinta e pigmento, para determinar se os materiais são condizentes com os que os artistas sob análise usavam.
De acordo com o herdeiro de Tarsila, a família quer passar a ter a palavra final sobre o que é ou não uma obra da artista, prerrogativa hoje nas mãos do colegiado que analisou as pinturas e desenhos que entraram no catálogo raisonné da pintora, publicado em 2008. O livro é a principal referência para as galerias e os museus sobre os trabalhos da modernista, ou seja, tudo o que está na publicação tem autoria comprovada.
Uma das pessoas que fez parte da comissão do raisonné é Aracy Amaral, que conviveu anos com Tarsila e é considerada a maior especialista do país na obra da artista. “É verdadeiro? É falso? Hoje com meios de reprodução muito sofisticados, é impossível que eu diga que a obra é boa ou não”, ela afirma, por telefone. No jargão do mercado de arte, obra boa significa obra verdadeira.
“Hoje, temos um acordo que nenhum parecer pode ser feito sem ser em conjunto, para evitar distorções. São dezenas, centenas de obras. Sou incomodada por email, por telefone. A própria família mudou o representante deles. É tudo muito vago, é um impasse”, ela acrescenta, se referindo às trocas recentes no comando da empresa que detém os direitos autorais de Tarsila.
O colegiado do raisonné não se reúne há mais de dez anos para avaliar obras que eventualmente não tenham sido catalogadas, e não há previsão para que isso aconteça. Recentemente, um escritor entrou na Justiça pedindo aos especialistas em Tarsila o reconhecimento de um conjunto de desenhos atribuídos a ela. Sem isso, ele não consegue vender as ilustrações.
A tela posta à venda na SP-Arte pelo galerista Thomaz Pacheco —conhecido por representar artistas contemporâneos jovens, não grandes mestres— é uma pintura datada de 1925 e que seria da fase “Pau-Brasil” de Tarsila, quando a artista morava em Paris nos seus anos de formação. Ele pede R$ 16 milhões pela tela.
O quadro estava no Líbano desde 1976 e foi trazido de volta ao Brasil há poucos meses, segundo seu proprietário, um homem de 60 anos com raízes familiares naquele país e que prefere não ter seu nome publicado. Ele diz ter quase certeza de que a obra nunca foi exposta e conta ter repatriado o trabalho por medo de que ele fosse danificado caso a guerra de Israel contra o Hamas chegue ao território libanês, vizinho de Israel.
Quintale, o perito, foi uma das poucas pessoas a ver a tela. Ele contou que a família da pintora está preocupada mas que procurou acalmá-los. Afirmou ainda que fará a certificação da obra quando receber autorização do proprietário do quadro e dos representantes da artista. Não há uma data para que isso seja concluído.
Questionado sobre o que faria diante da avaliação de especialistas de que a obra era falsa, Pacheco, o galerista, não deu detalhes, dizendo apenas que “as únicas pessoas capazes de autenticar a obra estão envolvidas no processo, e esse processo de certificação iniciou”.
Contudo, em uma mensagem de Pacheco a um terceiro a que a reportagem teve acesso, ele afirma que o perito analisou minuciosamente a obra durante três horas na sede da galeria e o deixou muito tranquilo. Diz ainda que a polêmica sobre a autenticidade do quadro vai acelerar o processo de certificação, fazendo com que a tela pule para a frente da fila.
Há cerca de dois meses, Pacheco já havia mostrado a tela para Peter Cohn, um galerista do mercado secundário, que negocia obras de grandes mestres, mas Cohn decidiu não ficar com o quadro. O filho de Cohn, Ulisses, afirma que eles recusaram porque o histórico da obra não era convincente e porque ela não consta no catálogo raisonné.
“Não trabalhamos com obras que não tenham uma documentação firme, por mais interessante que ela possa ser”, diz Ulisses Cohn, por telefone. “E essa obra não tem nada disso.”
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Fonte: Uol