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É como começar um jogo de futebol com um gol de vantagem, no mínimo. A comédia romântica “Evidências do Amor” tem o trunfo de contar, do início ao fim, com uma das canções mais populares da história da música brasileira. Composta em 1989 por José Augusto e Paulo Sérgio Valle, “Evidências” se tornou famosa país afora no ano seguinte nas vozes de Chitãozinho e Xororó.
É tamanha a força de “Evidências” que em 2023, ou seja, quase duas décadas e meia depois de ter sido composta, foi a música mais tocada em shows em São Paulo, segundo o Ecad, responsável pela arrecadação e distribuição dos direitos autorais de músicas no país.
O filme dirigido por Pedro Antônio, com estreia marcada para 11 de abril, não usa a canção apenas como trilha sonora, ela é a ponte para as passagens mais divertidas da trama e também para os momentos dramáticos.
Às vésperas de subir ao altar, Laura (Sandy) avisa Marco Antonio (Fábio Porchat) que não quer mais se casar com ele. O rapaz, como é de se esperar, fica acabado, mas não só. Depois de algum tempo, ele passa a ser teletransportado para o passado toda vez que ouve “Evidências”, esteja onde estiver: no elevador, no Uber, no escritório, em casa.
Essas viagens no tempo têm uma particularidade: Marco é sempre levado para momentos ruins do relacionamento de três anos com Laura. Nunca são boas lembranças. E como se livrar dessa maldição?
“Evidências do Amor” lida de maneira leve com esse mote amalucado, não busca embarcar em reflexões sobre metaverso e coisas do tipo. Essa despretensão faz bem ao filme —e ao público. Por outro lado, por que tudo o que envolve os protagonistas é tão impecável, para não dizer insípido? Por que insistir nessa estética límpida como fazem as piores novelas?
Laura é uma médica que gosta de cantar. Esteja trabalhando ou não, ela está sempre cuidadosamente maquiada. A decoração do apartamento de Marco é “cool” assim como seu ambiente de trabalho –ele, claro, tem uma profissão bacana, desenvolve aplicativos.
Esse artificialismo, um problema em boa parte do cinema comercial brasileiro, incomoda, mas não chega a ser um fardo para o filme graças à presença luminosa de Porchat.
Como já tinha demonstrado em produções como “Meu Passado me Condena” (2013) e “Se Beber, Não Ceie” (2018), Porchat é um ator com muitos recursos: domina o timing para que diálogos aparentemente banais soem engraçados; sabe explorar o humor físico; transita da comédia para o drama sem solavancos. Tanto talento não anula os problemas do filme, mas é capaz de torná-los secundários.
“Evidências do Amor” cresce especialmente quando Porchat atua ao lado de Evelyn Castro, que interpreta uma grande amiga. Muito provavelmente por conta de anos contracenando nos vídeos do Porta dos Fundos, eles expõem uma sintonia rara. E isso se dá mesmo que os registros cômicos sejam diferentes: Evelyn num tom mais histriônico, Porchat num estilo mais moderado.
Esse estado de graça é mérito dos atores, tudo poderia cair no ridículo ou no patético sem eles. Mas depende também da condução firme do diretor. Pedro Antônio mostra evolução em relação a filmes anteriores, como “Um Tio Quase Perfeito 2” (2021).
A essa altura do texto, a leitora e o leitor devem estar se perguntando: e Sandy? Bom, seu desempenho como atriz está degraus abaixo das suas performances como cantora. Poderia oferecer mais carisma à personagem de Laura, mas seria injusto dizer que ela compromete o filme. No jogo de atores, em que muitas vezes os egos se digladiam, Sandy sabe dar ao parceiro de cena o espaço para que ele brilhe, um gesto de generosidade.
Ao fim do filme, dois efeitos são prováveis, quase inevitáveis: cantarolar ou assoviar “Evidências” e lembrar as piadas de Porchat.
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Fonte: Uol