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Desde que fez sua primeira edição no Brasil, em 2012, o Lollapalooza criou a reputação de ser um celeiro de novos artistas, um evento em que tendências musicais de todo o mundo dividem espaço no lineup com artistas clássicos que o público anseia por ver há anos. Com poucas exceções, este ano não foi exatamente assim.
Em meio a uma mudança de gestão —o evento passou a ser comandado pela Rock World, do Rock in Rio e do The Town, após passar anos com a Time for Fun—, a edição aconteceu sob uma aura de déjà-vu. Se o Lollapalooza quer ser uma vitrine musical, em 2024 se revelou mais como um antiquário que uma loja de novidades.
Cancelamentos de artistas grandes ou novos e a escolha por atrações que já não estão no auge contribuíram para criar a sensação de um festival que poderia ter acontecido quase que em sua totalidade há uma década, quando a relevância dos artistas justificaria melhor suas escalações.
Sucesso na segunda metade dos anos 2000, o Kings of Leon, por exemplo, não empolgou como substituto do Paramore, uma das atrações mais aguardadas. Mas já não havia empolgado quando tocou, em 2019, no mesmo festival.
Em 2014, quando também estiveram no Lolla, Arcade Fire e Phoenix viviam seus melhores momentos, assim como Thirty Seconds to Mars, que tocou no Rock in Rio em 2013 e 2017. Agora nenhum desses grupos roda o mundo com álbuns elogiados ou turnês incensadas, e num geral foram uma sombra do que já representaram no palco.
A exceção foi Sam Smith, que tocou no mesmo palco do festival que se apresentou há cinco anos. Se daquela vez seu show já tinha sido grande e catártico, agora foi ainda maior, com mais sucessos no repertório e uma carreira em ascensão.
É um contraste com o ano passado, em que alguns dos nomes mais quentes do cenário mundial passaram pelos palcos do Lollapalooza —Billie Eilish, Rosalía e Lil Nas X, por exemplo— sem que sucessos de dez anos atrás ficassem de fora, como o Tame Impala.
Neste ano, quem melhor representou esse frescor foi SZA, em ascensão no pop mundial. A americana mostrou que tem voz e entrega para segurar uma plateia do tamanho do Lollapalooza, apesar do cancioneiro de apenas dois álbuns. Se não encontrou um palco principal lotado como o esperado para uma headliner, ao menos ouviu um público que celebrava suas músicas.
O Blink-182, embora não seja nada novo, foi outra novidade. No palco, o trio se mostrou tecnicamente melhor até que em seu ápice, aplacou a ânsia dos fãs espremidos com hits dos anos 1990 e 2000 e se sentiu à vontade para fazer piadas sexuais de energia “American Pie”.
Foi curioso, aliás, ver como uma banda que deixou o público de 2023 frustrado com seu cancelamento foi uma das salvações do festival neste ano.
Apesar da ausência de novos grandes rostos, a meiuca do lineup trouxe alguns refrescos. Fletcher e Omar Apollo, queridinhos da nova geração, fizeram boas estreias, e King Gizzard & the Lizard Wizard conquistou elogios emocionados do público. Kevin O Chris também mostrou como o funk pode se encaixar no contexto de um megafestival.
Todos esses fatores acabaram causando uma mudança de público, com menos jovens e mais gente com mais de 30 anos de idade. Longe ser um problema, trata-se de uma aposta numa fatia da sociedade com maior condição e independência financeira.
A sexta-feira, espécie de “dia do punk”, foi justamente um aceno à nostalgia dessa geração. Além do Blink-182, banda que os fãs esperam ver no Brasil há décadas, o Offspring fez um show mais celebrado que o comum pelo contexto.
No dia seguinte, Limp Bizkit e Titãs encontraram fãs dispostos e cumpriram essa função. A banda brasileira, aliás, atingiu mais gerações —assim como Gilberto Gil, no mesmo palco, no domingo— e arrastou uma multidão invadindo a madrugada com um show mais longo que o headliner, Kings of Leon.
Até a lama que tomou o Autódromo de Interlagos este ano trouxe lembranças de edições passadas no festival. Ainda que não tenha caído uma tempestade na zona sul de São Paulo, uma chuva fina e constante, junto ao clima frio, transformou a paisagem do evento.
Parecia a época em que o Lollapalooza acontecia no Jockey Club, com cenas de pessoas com os calçados sujos, se apoiando umas nas outras para não deslizar no terreno liso e encharcado. Especialmente no domingo (24), o trajeto entre os palcos poderia se tornar algo perigoso.
Se esse foi o ponto fraco em termos de experiência, o novo comando não fez grandes intervenções naquilo que dá mais certo —a disposição dos palcos no espaço.
Assim, o Lollapalooza continuou sendo o festival que melhor aproveita o autódromo. Os palcos continuaram se beneficiando dos morros que facilitam a visibilidade, não houve problemas graves de som e nem de aglomeração excessiva nos deslocamentos.
Como já foi possível perceber no The Town e no Primavera Sound, eventos que também acontecem no autódromo, os banheiros fixos —em vez dos químicos— foram novidades importantes, assim como o metrô e trem abertos 24h.
Além disso, ao contrário de The Town e Rock in Rio, o Lollapalooza concentra suas ações e estruturas publicitárias longe dos palcos. Além de um alívio visual, essa opção não obstrui o trânsito de pessoas e não aperta a plateia, que fica mais próxima dos palcos.
Em suma, não atrapalha o que há de mais essencial num festival, os shows —o que nem sempre parece ser óbvio em festivais da dimensão do Lollapalooza.
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Fonte: Uol