[ad_1]
Foi uma visita ao Planetário de Copenhague que mexeu para sempre com a cabeça do pequeno Rasmus Munk. “De alguma forma, eu senti que aquilo teria a ver com o meu futuro”, diz o chef dinamarquês que, como muitos meninos, sonhava em ser astronauta.
Sua carreira, no entanto, o levou a comandar fogões, e não naves interplanetárias. Mas no ano que vem, ele quer realizar seu maior sonho de infância: cozinhar para seis sortudos que comerão pela primeira vez no espaço.
Ao valor de 3,5 milhões de coroas dinamarquesas por pessoa (ou R$ 2,5 milhões), elas poderão provar o menu do chef a 30 mil metros de altitude, de onde jantarão enquanto observam o nascer do sol sobre a curvatura da Terra.
Trata-se de uma parceria do chef, considerado o 6º melhor do mundo, com as empresas de viagens espaciais de luxo SpaceVIP e Space Perspective para o que é considerada “a primeira experiência gastronômica estratosférica”.
Munk comanda o Alchemist, restaurante nórdico com duas estrelas Michelin e mais de US$ 15 milhões em investimentos, que inaugurou o conceito de “gastronomia holística” —segundo o qual o que se sente durante a refeição tem tanta importância quanto aquilo que se come.
Tanto que o chef diz ter se inspirado no planetário de sua infância para criar o salão principal do restaurante, desenhado em formato de abóbada, onde projeções 3D mudam conforme o menu, ocupando o “céu” visto pelos clientes —são 50 deles por noite e mais de 10 mil em lista de espera.
“A oportunidade de criar uma experiência gastronômica estratosférica juntamente com os maiores especialistas mundiais em ciência e design parece completamente maluca e, ainda assim, bastante lógica”, diz ele em entrevista à Folha.
Munk afirma que foi procurado pela SpaceVIP pelas receitas inovadoras que serve, entre elas, um ceviche de água-viva, uma língua de silicone realista coberta de flores e coquetéis que brilham no escuro.
O jantar acontecerá dentro da cápsula Spaceship Neptune (criada pela Space perspective, empresa de experiência de voos espaciais neutros em carbono) e partirá da Flórida, para onde retornará após algumas horas —ainda não definidas.
Como de nada vale uma experiência dessas sem poder compartilhar, os convidados terão acesso a wi-fi durante todo o voo espacial para poderem fazer até transmissões ao vivo dos pratos.
O cardápio, aliás, ainda não está definido, mas Munk diz querer criar uma interpretação gastronômica dos últimos 60 anos de investigação espacial e do seu impacto na sociedade –tanto científica como filosoficamente.
“Vamos pegar alguns desses exemplos e enquadrá-los numa nova perspectiva gastronômica”, diz o chef, que adianta que quer resgatar uma das mais conhecidas receitas já criadas para o espaço: o sorvete liofilizado, desenvolvido nos anos 1960 para a missão Apollo, da Nasa.
Entre outros caminhos, ele cita um aerogel “tão leve quanto uma nuvem” que está sendo testado em sua tecnológica cozinha e uma proteína gelatinosa, capaz de brilhar no escuro e que ele já usa no Alchemist.
“A ideia é aproveitar ao máximo o ambiente espacial, então talvez possamos escurecer completamente a cápsula e servir algo que acenda e crie esquemas de estrelas na nave”, ele diz.
A missão do “jantar espacial” é dupla: ampliar os limites do turismo espacial e reverter os lucros à Space Prize Foundation, que promove a educação e desenvolve oportunidades de orientação para jovens interessados no espaço.
“Temos o privilégio de trabalhar com alguns dos principais designers e universidades de todo o mundo na exploração espacial e tentar fazer disso algo que mais pessoas possam experimentar no futuro” afirma o chef.
Segundo Munk, a experiência é uma forma de pavimentar o caminho do turismo espacial, tornando-o mais acessível nos próximos anos. “Em vez de tirar férias em uma ilha, talvez muitas pessoas prefiram ir ao espaço por seis horas para fazer uma refeição.”
Ele diz que o altíssimo preço se deve ao uso de uma tecnologia ainda incipiente, que deve prosperar e se popularizar no futuro. “Como na Fórmula-1, cujos avanços desenvolvidos pelas montadoras depois beneficiam toda a indústria automotiva”, compara.
O dinamarquês também se diz ansioso para criar receitas que surpreendam tanto “nas texturas e sabores quanto nas mensagens”. Munk é conhecido por criar pratos que atiçam a consciência ética de seus clientes.
Ele serve um frango que vem dentro de jaulas que representam a vida de maus tratos que galinhas levam nas granjas e um chocolate em formato de caixão para alertar sobre a exploração da indústria de cacau.
“Com o cenário que teremos diante de nós, precisamos abordar algumas coisas que estão acontecendo no planeta, principalmente em termos climáticos e de biodiversidade”, ele diz sobre o que espera servir.
“Precisamos aproveitar o privilégio espetacular de ver o globo como um todo para tentar pensar no nosso papel no mundo”, diz. O menu, para Munk, será uma mistura de inovação e ciência, temperado com um pouco da realidade que enfrentamos e de muitos dos problemas que precisamos resolver.
[ad_2]
Fonte: Folha de São Paulo