[ad_1]
Quando Kevin oChris subiu no palco do Lollapalooza pela primeira vez, há cinco anos, ele era uma das grandes novidades da música brasileira. Na ocasião, o funkeiro foi convidado do trapper americano Post Malone e causou um alvoroço.
Em 2019, o funk 150 BPM, ou batidas por minuto, do qual Kevin é um dos maiores expoentes, estava no auge. Na noite deste sábado (23), quando ele subiu ao palco Alternativo do Lollapalooza, tanto ele quanto seu estilo de música são uma realidade estabelecida na música popular brasileira.
Antes de cantar qualquer música, Kevin mandou um abraço para toda a família, que o assistia pela televisão. Também perguntou quem se lembrava da participação no show de Post Malone. “A gente tirou uma onda”, disse. “Mas agora é diferente.”
De fato, Kevin levou um show completo, esteticamente repaginado, ao festival. Emendou hits, como “Evoluiu”, embalando as músicas originalmente eletrônicas com riffs de guitarra, além de um teclado e um baixo.
O imaginário do Baile da Penha, tão presente em suas letras, permaneceu em faixas como “Tu Tá na Gaiola”, “Eu Vou pro Baile da Gaiola” e “Finalidade Era Ficar em Casa”, entre outros sucessos. Mas as batidas que tocam nos bailes de favela se misturaram a outros ritmos e timbres, dialogando com o pop, o rock e o reggaeton.
“Dentro do Carro”, hit que sampleia “Day Tripper”, dos Beatles, ganhou introdução com solo de baixo. “Romance Proibido” virou uma balada pop. “Tá Ok” começou como um hard rock épico e dramático.
Kevin brincou com as letras de teor sexual —marca do subgênero putaria, do funk. “Que putaria pesada, ein? Mas é isso, todo mundo nasceu de um sexo.”
Em alguns momentos, os arranjos tornaram as músicas arrastadas e irreconhecíveis em relação às suas versões mais famosas. Em outros, como em “Ela é do Tipo” —regravada, há uns anos, por Drake—, foi possível ouvir a química que fez do funkeiro um tipo único dentro do gênero, com uma voz doce desenhando melodias suaves por cima de batidas duras e rápidas.
O público que foi ver Kevin no Lollapalooza não foi gigante, mas quem foi ao palco Alternativo no começo da noite estava disposto a dançar e cantar com ele. Só não tirou a camisa a pedido do funkeiro —fazia muito frio, além de chover, na zona sul de São Paulo.
Um tipo tímido, Kevin foi de produtor prodígio de batidas em equipamentos precários no subúrbio do Rio de Janeiro a frontman de uma banda. No palco, ele contou com a ajuda de dançarinos para entreter a multidão.
Além do 150 BPM, Kevin tem se destacado por repaginar o tamborzão —estilo se batida de funk muito popular entre os anos 1990 e 2000— e trazê-lo de volta às paradas. “Faz um Vuk Vuk”, de ambientação atmosférica, foi uma dessas cantadas no show, assim como “Loba”, que sampleia “Faz Uma Loucura por Mim”, de Alcione —esta última, ainda inédita.
A batida do tamborzão, aliás, ditou a segunda metade do show. A partir de “Papin”, hit próprio, ele puxou uma sequência de sucessos alheios do funk carioca, incluindo “Glamurosa”, do MC Marcinho, “Se Ela Eu Danço”, do MC Leozinho, “Copo de Vinho”, do MC Robinho da Prata, “Rap das Armas”, de Cidinho e Doca, “Rap do Silva”, do MC Bob Rum.
Houve espaço para trechos de sucessos do funk de São Paulo, como “Quem É Essa Menina de Vermelho”, do MC Daleste, e “Deu Onda” e “Cara Bacana”, ambas do MC G15.
Dali até o fim, ele emendou trechos de hits dos mais variados gêneros —tudo embalado pelo tamborzão. Foi do pagodão baiano de Léo Santana ao rock do Red Hot Chili Peppers, passando por Alceu Valença e até o trecho de uma parceria de Kevin com Luan Santana, um sertanejo com funk.
Ainda que por vezes faça muitas concessões em relação à estética que o consagrou, o show de Kevin pode representar um caminho para o funk entrar cada vez mais no radar dos grandes festivais. As músicas estavam na boca do público, e um espetáculo completo e dinâmico como o dele tem o apelo de abrir os olhos de curadores mais conservadores em relação ao funk país afora.
[ad_2]
Fonte: Uol