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Poucas coisas tiram um jornalista do atribulado dia a dia de um jornal como uma boa história. Triste ou feliz, uma boa história pode passar de triste a feliz após ser publicada.
Este é o caso e a história de Antônio Sergio Ribeiro, o Zezo Ribeiro, 61, violonista, compositor e arranjador com vários álbuns lançados, no Brasil e na Espanha.
Atualmente o músico mora em condições precárias, dentro de uma das mais de 100 mini quitinetes de cerca de 12 metros quadrados de um cortiço no bairro de Campos Elísios, próximo à sede da Folha.
Desesperado, doente e sem recursos, o músico ameaçou tirar a própria vida em uma das inúmeras lives que tem veiculado em seu canal no Instagram.
Diante de tamanho insulto à razão, este repórter foi ao encontro do experiente músico para conhecer sua história.
A HISTÓRIA
Filho adotivo, Zezo não sabe exatamente onde nasceu. “Dizem que minha mãe biológica, era de Taubaté, enfermeira de um médico famoso. Como os dois eram casados e tinham outras famílias tiveram um caso, ela [a mãe] me concebeu e veio para São Paulo. Ficou num convento, que eu não sei onde era, e me deu para minha mãe adotiva”, disse o músico em entrevista concedida ao blog em sua moradia, pois sua mobilidade está comprometida e muitas foram as quedas que já o levaram ao chão.
A mãe e o pai adotivo do artista, oriundos de uma família portuguesa, eram proprietários de uma barraca que vendia queijos na feira do Pacaembu, zona oeste da cidade de São Paulo. “Sou pretinho, meio neguinho, meio moreninho. Quando era criança tinha uma graxa preta de sapato que chamava ‘Zezo’ e acabei sendo apelidado com esse nome. Meu nome, Antônio Sergio, serve só para responder sobre as dívidas de divórcio que eu tenho com minhas ex-mulheres”, disse o violonista que ganhou seu primeiro violão ainda criança.
Como a maioria dos feirantes, os pais de Zezo acordavam cedo para enfrentar a lida e quando voltavam para casa, na parte da tarde, queriam dormir. Contudo o garoto Zezo os atormentava batucando alto e forte em latas enormes de azeite que, vazias, eram usadas como lixeiras na casa. A solução foi trocar a percussão das latas pelo dedilhado de um violão no qual gostava de tocar acompanhando as músicas dos Beatles.
Um convite para tocar na igreja foi aceito pelo jovem violonista, na ocasião com sete anos de idade. A extinta revista “VIGU-Violão Guitarra”, que trazia na capa o slogan “A revista que canta na sua mão” foi grande companheira do jovem aprendiz, que com o tempo tornou-se um músico maior e passou a enriquecer as harmonias simples apresentadas na publicação.
O extinto bar Quincas Borba, na avenida Henrique Schaumann, em São Paulo, foi palco para Zezo se aprimorar cada vez mais no instrumento, até ser convidado pelo guitarrista gaúcho Olmir Stocker, conhecido como Alemão, para integrar um grupo ocupando o lugar que estava guardado para Raphael Rabello (1962-1995).
Foram mais de quatro anos tocando juntos até chegarem ao palco do festival de jazz de Montreal, no Canadá. “Eu nunca tinha feito um show e quando me dei conta estava no palco diante daquele público enorme, cheio de músicos ótimos do mundo inteiro, e no exterior. Não acreditei. Quando acabou, o Dori Caymmi veio me cumprimentar”, disse o instrumentista que após essa apresentação, em 1984, gravou com Alemão quatro discos, entre eles “Brasil Geral” (1992); com o saxofonista Flávio Sandoval, foram mais dois, “Acoustic Brasil” (1994) e “Acoustic Brasil 2” (1996).
Em 1994, Zezo ganhou uma bolsa de estudos na Espanha, onde se dedicou a mesclar o flamenco a seu som. Seu virtuosismo foi logo detectado por um empresário espanhol que ofereceu ao músico 180 mil dólares para gravar três álbuns. Vieram na sequência, “Gandaia” (1995), “Flamencando” (2001), “Turbilhão” (2005), “Compositor” (2007) e “Brincadeira” (2004). Completando sua discografia, posteriormente surgiram “Solo e Muito Bem Acompanhado” (2006) e “Coração de Melodia” (2008).
Zezo morou nos Estados Unidos, na Espanha, viajou pela América Latina passando pela Argentina e Chile, entre outros países, fazendo shows e voltou ao Brasil. Segundo o músico, tudo melhorou mais ainda quando foi ao programa de Jô Soares (1938-2022). “Acho que fui a atração que foi mais vezes no programa do Jô Soares. Estive lá seis vezes. Ligavam de todos os lugares para a produção repetir minha apresentação. Mais de mil ligações. Foi um sucesso”.
Entre 2010 e 2011, em São Paulo e Madri, Zezo Ribeiro realizava mais de 40 shows por ano, ganhando altas quantias e viajando pelo Brasil e pelo mundo. “Eram cachês muito bem pagos e eu era respeitado em todos os lugares onde me apresentava.”
Naquela ocasião, a filha do guitarrista Alemão entrou em contato com o violonista e disse que o pai estava com câncer. Imediatamente Zezo organizou um show, no Sesc, em São Paulo, para arrecadar uma grana, no intuito de pagar a operação que seu colega estava precisando realizar. No total, foram 15 shows pelo Brasil.
No último espetáculo da série, que aconteceria no Sesc Pompeia, em São Paulo, o caldo entornou, segundo Zezo Ribeiro, por uma questão burocrática. “Convidei o Pat Martino [guitarrista de jazz norte-americano, morto em 2021] para tocar no show e errei ao pedir para ele um visto de negócios, quando tinha de ser de trabalho. O Sesc cancelou a apresentação dizendo que não daria o dinheiro com aquele tipo visto”.
Frustrado diante do cancelamento do espetáculo, Zezo Ribeiro ficou durante três meses de 2011 na frente do Masp (Museu de Arte de São Paulo), na avenida Paulista, com o violão e cartazes trazendo dizeres contra a instituição. “Escrevi que estava havendo um crime cultural por parte deles [Sesc]. Nunca mais me chamaram pra nada. Me bloquearam, me cancelaram em todos os lugares”.
Na ocasião, morando em um flat no Jardins, em São Paulo, o músico teve de vender tudo o que tinha, como os seus preciosos instrumentos feitos por renomados luthiers, para sobreviver. Não havendo lugar para se apresentar, nem oportunidades de trabalho no Brasil, em 2014 o músico retornou para a Espanha.
Em Madri passou a tocar e dar aulas nas ruas da cidade até ser deportado. “Sou artista, nunca me preocupei com papéis ou números. Eu não sou um número digital cara! Sou um artista porra! Me apresentei várias vezes na TV espanhola, em teatros, festivais, fiz trilhas para um monte de filmes deles, fui matéria de jornais uma porrada de vezes também. Não me preocupava com isso. Sou o único brasileiro com disco gravado em gravadora espanhola. Tenho mais de 80 músicas registradas lá.”
O músico retornou ao Brasil e na sequência foi para os Estados Unidos, onde depois de um tempo também passou a morar na rua tocando violão, por quatro meses, até retornar novamente ao Brasil, onde em 2019 foi diagnosticado com demência, provavelmente pelo uso contínuo de uma medicação, segundo o artista. “Tomo esse remédio há 25 anos, e está na bula isso que estou te dizendo. Está escrito que causa demência, Alzheimer. Além disso, descobriram que tenho um câncer no rim e agora estou só com um rim funcionando.”
A AJUDA
Uma ajuda foi dada ao artista por uma pessoa que ele não revela quem é: “Uma pessoa me ajudou e comprou uma passagem para que eu voltasse para a Espanha, porque lá eu tenho tratamento aliado a trabalho e tudo mais.”
No entanto, ao tentar embarcar para Espanha, o músico foi impedido por conta da epidemia da Covid-19, que assolava o planeta. “Tentei até ir até de navio, mas não consegui. Hoje estou nessa merda, morando no meio da Cracolândia, com ratos neste cortiço, e sem esperança nenhuma de melhora. Por isso falei que quero me matar. Não aguento mais! Aqui, o que eu estou fazendo é só piorar, piorar, piorar e piorar”, disse chorando.
Como você arruma dinheiro para viver e como reverter esta situação? “Tenho o auxílio do governo do Barba [presidente Lula] e a ajuda de algumas pessoas como uns luthiers que doam violões e eu os vendo para me sustentar, comprando coisas para minha higiene, remédios e pagando algumas consultas com médicos. Preciso levantar uma grana, em torno de uns 50 mil reais, para retornar para Espanha e lá me curar. Tenho muita fé que isso irá acontecer; e um dia ainda iremos tomar um vinho juntos na Espanha, depois de um show meu.”
Por que você quer ir para a Espanha? O fato de você ter sido deportado de lá não seria um empecilho para sua entrada no país? “Cara, quero ir para a Espanha, porque eu quero me curar. Isso da deportação foi há mais de dez anos. Aqui no Brasil, você não consegue nada. Tenho desmaios, caí na rua, dentro de uma caçamba, roubaram meu celular. Fui em vários hospitais, mas não adianta nada. Esse negócio de SUS não funciona. Há dois anos que me trato e tenho de fazer uma punção, mas não consigo. Isso é uma vergonha! Hoje, não lembro nenhuma de minhas músicas, depois de quase 50 anos de carreira. Não toco há anos porque minha mão não funciona mais. Na Espanha está a principal escola de neurologia do mundo. Lá existem associações que irão me acolher e me curar.”
Como você pretende amealhar essa quantia para ir para a Espanha? “Através de empresários e gente sensível a isso tudo. Eu preciso de ajuda, porque meu, juro por Deus, cara, se eu tivesse uma arma eu já tinha matado alguém; e olha que tem gente boa para eu matar porque teve gente que fodeu legal a minha vida e me fodeu na maldade. Agora eu me tornei religioso. Aprendi a perdoar e a me perdoar. Tem um viaduto aqui perto que passa um trem e eu já tive vontade de me jogar de lá, porque essa coisa que eu tô tendo de não lembrar a música, de não ter trabalho é insuportável. Eu estou envergonhado do meu próprio país, já escrevi para a Margareth Menezes [ministra da Cultura], conversei com Deus e o mundo, mas não adianta”.
Você não acha que sua posição nos vídeos que tem postado falando sobre artistas como Toquinho ou de gêneros musicais como o choro podem prejudicar sua imagem tanto quanto a sua solicitação de ajuda? “Não, porque eu já estou queimadíssimo nas mídias, as instituições que me foderam. Além disso, o choro e o Toquinho são uma merda mesmo. Eu não tenho nada contra o Toquinho, só acho ele ruim demais, e isso é uma opinião minha. E quanto ao choro, todo mundo tem a sua opinião. Eu já ouvi opiniões a meu respeito sobre o que eu faço, dizendo que eu sou um músico inovador. O choro é mesma coisa há mais de duzentos anos. Eu sou um músico inovador. Um cara que só fez música bonita, daqui não sai porcaria. Está cheio de empresários, arquitetos e empreendedores, grandes caras, que têm dinheiro para me ajudar. Porra meu, chega aí [empresários], vamos conversar velho, a gente faz um documentário. Eu te retribuo com um documentário, por exemplo. Eu só peço para Deus que me ajude a me ajudar, a me curar. Aqui tem um cara sofrendo muito, com o nome sujo, sem condições, que nem um filha da puta, caralho, porra! Tô dando a minha cara, eu tô fodido, preciso de ajuda. Caso contrário vou morrer e aí vai todo mundo dizer: ‘Ah, coitado’. Só que aí já estarei morto”.
Como as pessoas podem entrar em contato com você para ajudar?”Através do meu canal no Instagram. Tenho três canais lá. O principal é o Zezo_Ribeiro, né? Tem também o Zezo Ribeiro 17 e o tem o Cura na Espanha_Zezo”.
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Fonte: Uol