[ad_1]
Muitas coisas estão em jogo na série “O Problema dos 3 Corpos”, dos mesmos criadores de “Game of Thrones” e baseada em livros do escritor chinês Liu Cixin.
Para começar, a comunicação com vida inteligente de outro planeta. É algo clássico da ficção científica e parte importante aqui. Essa comunicação é realmente desejável? Normalmente nos traz problemas.
Em segundo lugar, um profundo descontentamento com a humanidade, que provoca o desejo, em uma jovem chinesa, de entregar as riquezas da terra para populações alienígenas. Ela se torna uma espécie de embaixadora preparada para facilitar a invasão.
Cientistas param de trabalhar, por vontade própria ou por serem impelidos ao suicídio. O que os assustava? Seria só uma contagem regressiva incutida em suas mentes ou eles eram, na verdade, assassinados?
Mais fácil matar humanos se a ciência for desacreditada. Vimos isso durante a pandemia. É como se os alienígenas da série tivessem percebido o caminho e o seguissem. No mundo dos anos 2020, o negacionismo impera.
Se a minissérie adota um viés científico condenando o negacionismo, a China de Mao Tsé-Tung não é poupada. Seria o mundo violento e destrutivo que precisava ser modificado. O problema é que a mensagem aos invasores demora a chegar. Por isso os saltos no tempo.
Temos ainda o caráter “mabuseano” de certos personagens que tudo veem e tudo controlam, como o detetive que parece estar em todos os lugares ao mesmo tempo e os controladores do jogo virtual que controlam também a mente dos cientistas que o jogam.
Hoje, com um excesso de câmeras captando todas as nossas ações e com smartphones espiões que nos mostram o caminho para o que podemos desejar, vivemos uma espécie de realidade virtual em que nossas escolhas parecem cada vez mais limitadas por um algoritmo.
Finalmente, a tecnologia pode levar facilmente à destruição, e isso uma das personagens importantes da minissérie aprende da pior maneira possível, testemunhando uma aniquilação com a arma que desenvolveu.
Sabemos que as respostas a alguns mistérios virão em algum momento da série, cifradas ou não, possibilitando, muitas vezes, o surgimento de novas perguntas. Sabemos também que o risco nesse tipo de trama é sermos frustrados por explicações simplórias.
Felizmente, algumas respostas logo chegam, e são, no mínimo, interessantes. Elas provocam, como prevíamos, novas perguntas, que passam a ser respondidas gradualmente, dentro de um jogo narrativo em que sempre resta algum mistério a ser resolvido.
Por que os três corpos no título se o número de cientistas mortos é muito maior? A resposta para esta e outras perguntas está no terceiro episódio, mas o espectador atento verá que é antecipada nos episódios anteriores e até mesmo no material de divulgação.
Uma curiosa brincadeira está no tratamento formal, com um número acima do comum de enquadramentos com três pessoas, ao menos nos três primeiros episódios da série. Assim inicia a trama: reverenciando o número três.
Parece que a humanidade só pode progredir em trios. Mesmo quando duas cientistas estão no bar, há sempre uma terceira pessoa para completar o enquadramento. Claro que nenhuma encenação funcionaria unicamente com enquadramentos contendo três pessoas. Mas é incrível como eles aparecem em grande número no balanço geral.
Por vezes, o mundo dentro da realidade virtual é infantil, como no encontro fictício entre Aristóteles, Galileu e Copérnico, que lembra um antigo episódio da série de TV “O Sítio do Picapau Amarelo”.
Há ainda um personagem que descobre estar com câncer terminal. As cenas com ele revelam um lado melodramático que combina com a noção de perda que vários dos personagens atravessam na trama, mas carrega um tom sentimental demais, com aquela trilha genérica que já ouvimos tantas vezes.
Por fim, vemos com alguma frequência as conversas entre Mike Evans, personagem de Jonathan Price e principal aliado dos alienígenas, e uma liderança dos futuros invasores, localizada do outro lado de uma linha de comunicação.
Em certo momento, a conversa se torna extremamente tensa conforme a liderança não entende conceitos que para nós são claros. A mentira assusta e quem mente se torna ameaça. Os humanos mentem, logo, subentende-se, precisam ser exterminados. Uma pequena caixa sonora se revela um potente instrumento de horror.
Pensada para ter quatro temporadas, a série promete em mistério e dramaturgia, promovendo uma interessante mistura de gêneros e alguma dose de violência, para fazer jus ao universo da irmã mais velha, “Game of Thrones”.
[ad_2]
Fonte: Uol