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Dos dragões sobrevoando cidades medievais a naves espaciais refletidas nos arranha-céus do distrito financeiro de Londres. É uma mudança radical a dos produtores D. B. Weiss e David Benioff, dupla que criou “Game of Thrones” para a HBO e, agora na Netflix, lança sua primeira série desde o sucesso avassalador do drama fantástico.
Com estreia nesta semana, “O Problema dos 3 Corpos” mergulha na ficção científica, numa realidade em que o mundo é ameaçado não por monstros alados, mas por extraterrestres que estão de olho na fartura e estabilidade do planeta Terra.
“Há muita pressão envolvida no projeto, e isso seria verdade mesmo se estivéssemos trabalhando com um baixo orçamento. É um sentimento que opera num nível pessoal”, diz Benioff, que no meio do caminho roteirizou o mal avaliado “Projeto Gemini”, estrelado por Will Smith.
Para além do envolvimento da dupla e do orçamento na casa dos US$ 160 milhões, cerca de R$ 800 milhões, “O Problema dos 3 Corpos” também se engrandece com o fato de ser a adaptação do primeiro romance asiático a vencer o prêmio Hugo, uma das mais importantes láureas da literatura de ficção científica.
Equivalentes ao primeiro livro da trilogia “Lembranças do Passado da Terra”, os episódios que estreiam agora estão sendo gestados há quase cinco anos. Foi quando Benioff e Weiss leram o trabalho do autor chinês Liu Cixin e decidiram adaptá-lo, logo após o encerramento catártico de “Game of Thrones”. Só para assegurar os direitos autorais, levaram um ano.
É difícil falar da série sem dar spoiler, já que o espectador só vai entender completamente diante de que tipo de história está lá para o meio da temporada. Seus protagonistas são físicos egressos de Oxford, algumas das mentes mais brilhantes do mundo, incrédulos com o fato de todas as leis que fundamentam seu campo estarem repentinamente deixando de fazer sentido.
Com isso, uma onda de suicídios toma a área, com pesquisadores tirando a própria vida de formas absurdas e violentas, sem antes dar qualquer indício de que estariam enfrentando problemas de saúde mental.
Entra em cena uma agência policial britânica, que tem por objetivo investigar casos que orbitam o campo do inexplicável. Seus agentes logo percebem algo incomum em todas as mortes –antes de tirar a própria vida, os físicos estavam passando horas dentro de um videogame de realidade virtual, feito a partir de uma tecnologia desconhecida.
Não demora muito até um dos ex-estudantes de Oxford pôr as mãos num desses. Dentro do ambiente virtual, Jin Cheng se depara com o tal problema de três corpos que dá nome à série –a inconstância de três massas que orbitam o mesmo campo gravitacional. Só buscando soluções ela pode avançar para a próxima fase.
São vários os núcleos de personagens, que demoram para ver seus caminhos se cruzarem. Há os físicos brilhantes, divididos entre aqueles que trilharam carreira na academia ou usaram sua mente para lucrar horrores; há os policiais que investigam os suicídios; há uma seita do fim do mundo, responsável por distribuir os videogames, e há uma senhora chinesa, que nos anos 1960 enviou um sinal para fora da Terra em busca de vida alienígena.
Será preciso paciência, por parte do espectador, até que todas as peças do quebra-cabeça se encaixem. Mas como já fizeram em “Game of Thrones”, Benioff e Weiss, agora acompanhados do também showrunner Alexander Woo, fizeram da imprevisibilidade dos rumos de seus personagens absurdos que devem segurar a atenção do público.
Liam Cunningham, que trabalhou com a dupla na série fantástica, em que viveu o gentil e sábio Davos Seaworth, diz que teve sua atenção capturada pelo fato de “O Problema dos 3 Corpos” ser “coisa de adulto”.
“Eu fiquei de coração partido quando ‘Game of Thrones’ terminou, porque tudo o que um ator quer é um roteiro bem escrito. E a nova série tem uma escrita inteligente, te põe diante de questões morais o tempo todo”, diz o ator, que foi de lacaio para figurão da agência britânica que está no centro de “O Problema dos 3 Corpos”.
A ele se juntam dois outros colegas de elenco de “Game of Thrones”, John Bradley, que viveu o atrapalhado Samwell Tarly, e o veterano Jonathan Pryce, que volta ao papel de líder de uma seita fundamentalista, depois de aterrorizar como o Alto Pardal. Benedict Wong e Rosalind Chao, que já lidaram com extraterrestres em “Doutor Estranho” e “Star Trek”, respectivamente, são outros nomes maiores num elenco relativamente desconhecido.
Em meio à “boa escrita” à qual Cunningham se refere, e às complexas fórmulas físicas que por pouco não alienam o espectador leigo, os criadores infiltraram mensagens que se relacionam com o estado atual do mundo –a física chinesa que dá o primeiro passo para conectar terráqueos e extraterrestres, afinal, acredita que os humanos não merecem o planeta que têm.
Não leva muito tempo para termos como negacionismo entrarem em cena, em episódios em que a exatidão da física se contrapõe ao extremismo da já citada seita. “Eu não diria que há uma mensagem na série, mas como ela é ambientada no nosso presente, achamos justo atestar que a ciência e o método científico estão sofrendo golpes de todos os lados”, diz Weiss.
“A série questiona o que fazemos quando uma ameaça invisível se aproxima. Veja o que fizemos com a Covid, nem todos nos unimos em busca de uma solução. Isso destruiu famílias, relacionamentos”, completa Cunningham, que vê na cruzada alienígena da série um potencial de destruição ainda maior.
A palavra invisível, aliás, sintetiza bem a ficção científica de “O Problema dos 3 Corpos”. Longe de enormes naves espaciais e de grandes efeitos explosivos, a série prefere fantasiar nas entrelinhas do roteiro, o que acaba por aproximá-la da realidade.
Jovan Adepo, que interpreta um dos físicos da trama, brinca ao falar da verossimilhança: “Se a série apontar um caminho para o nosso futuro, então espero que a gente receba o Nobel de física”.
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Fonte: Uol