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O chef Claude Troisgros, 67, começou a gravar um novo programa para o GNT, o Geladeiras em Ação. Previsto para estrear em maio, o reality mira a comida que é feita no dia a dia por cozinheiros domésticos do Brasil.
O projeto se distancia dos duelos de alta gastronomia entre chefs profissionais com que Troisgros trabalhou na TV. Ele apresentou o programa Mestres do Sabor, que ficou no ar por três anos na Globo, e também foi jurado por seis temporadas do The Taste Brasil, do GNT.
No novo reality, que compartilha mais raízes com outro programa do chef, o Que Marravilha!, focado em receitas familiares e nas histórias por trás das comidas, o ponto de partida é a geladeira.
Com o que se encontra nela, diz Troisgros, todo mundo consegue preparar exemplares de cozinha caseira como feijão, arroz, salpicão, picadinho ou estrogonofe.
O chef quis então reproduzir na TV a situação de ter de cozinhar em casa só com o que há no eletrodoméstico, mas em formato de competição.
Em cada episódio do Geladeiras em Ação, três competidores vão preparar café da manhã, almoço e jantar a partir de produtos escolhidos a dedo pelo apresentador.
“E aí então abre a geladeira e se vira. Não vai ter nada bem embalado. Vai ser igual em casa, com ingredientes envolvidos no plástico, com itens para distrair”, explica o chef.
Além das comidas temáticas, os competidores podem usar produtos básicos como vinagre, azeite, óleo, sal, pimenta e especiarias.
Cada prato será provado por Troisgros, pelo chef Batista, seu parceiro de longa data, pelo ator Douglas Silva e por uma convidada que muda a cada semana.
Para trazer mais emoção à disputa, Troisgros prepara uma surpresa para os competidores: na gaveta da geladeira, haverá ingredientes secretos. “Quando abrirem [a gaveta], vão precisar usar os produtos, que podem ser até meio loucos”, diz o chef. “Vai ter emoção, pressão, mas também será bem-humorado”.
Troisgros avalia que o programa é uma oportunidade de valorizar a gastronomia do dia a dia do brasileiro, com a qual o chef tem relação longa.
Há 44 anos no país, ele criou o hábito de viajar pelas cinco regiões —na maioria das vezes de moto— para conhecer a tradição dos cozinheiros comuns.
Na estrada, ele diz que sempre pede indicação de casas de “comida regional raiz”. “Quando viajo, procuro restaurantes populares, não só os estrelados. Gosto de me enfiar nos buracos mesmo, é mais a minha praia”, afirma o chef.
Em Manaus, por exemplo, foi levado para conhecer um restaurante de um pescador. “Foi surreal”, lembra ele. “Comi peixes de água doce que não lembro bem o nome, mas tinham um sabor incrível”.
Outra experiência marcante foi em um mercadinho no vale do rio São Francisco, onde conheceu uma cozinheira que vendia buchada de bode.
Curioso com a refeição —o chef nunca tinha cozinhado o prato—, ele aceitou um convite para aprender o preparo na casa da mulher.
“A gente trabalhou a noite inteira costurando as buchadas. Aí de manhã a gente foi servir no estande do mercado. Comi o prato às 6h da manhã com os trabalhadores da região”, conta Troisgros.
Esses encontros ao longo dos anos ajudaram o chef a ter uma perspectiva positiva sobre os cozinheiros populares do país, o que depois se tornou um anseio de valorizar essas tradições.
“O Brasil é rico em cozinha popular em qualquer região”, afirma Troisgros. “É uma força a ser reconhecida ao lado da cozinha francesa, italiana e chinesa. Tem a força dos ingredientes, de produtos, de gente que cozinha em casa e que aprecia a sua tradição e a sua região”.
Em sua própria cozinha, o chef valoriza ingredientes brasileiros. Para as Olimpíadas de Paris, por exemplo, vai assinar o menu dos voos internacionais da Azul. Nele, os passageiros vão encontrar exemplares de uma cozinha franco-brasileira, o que inclui filé de pirarucu com purê de mandioquinha e banana assada, além de cheesecake com queijo Minas ralado.
“Eu me inspirei nos dois países que amo para fazer esse menu”, afirma o chef, que vê no Brasil e na França uma relação forte com comida caseira, mas em níveis diferentes.
Quando os brasileiros comem fora, diz o chef que comanda restaurantes nas capitais de São Paulo e do Rio de Janeiro, eles pedem comidas diferentes das que são feitas em casa. Não é o que acontece na França. Os franceses gostam de pedir pratos típicos do país, segundo Troisgros.
Apesar da diferença entre os dois lugares, o chef sente uma mudança na percepção dos brasileiros em relação à culinária popular. Ele diz que um dos motivos para esta valorização tem sido o trabalho de chefs que mostram o sabor e potencial dos ingredientes regionais.
“Hoje em dia se faço prato com o quiabo, ele vai ser percebido como algo de grande criatividade, o que não aconteceria antes”, diz Troisgros.
“O respeito pela comida caseira mudou o espírito das pessoas. Uma prova clara tem sido o aumento dos programas de televisão tratando desse tema, como o Geladeiras em Ação”, diz ele.
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Fonte: Folha de São Paulo