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Neste domingo, a cerimônia de entrega do Oscar vai encerrar um agito que se estendeu por boa parte do ano passado, com a estreia simultânea de “Barbie”, de Greta Gerwig, e “Oppenheimmer”, de Christopher Nolan.
Disputando o prestígio do público, da crítica e dos votantes da premiação, a coroa deve ir mesmo para o filme sobre o pai da bomba atômica, se a estatueta refletir as premiações dos sindicatos.
Mas, ao longo de 2023 e no começo deste ano, chegaram aos cinemas fortes concorrentes com qualidades únicas, e que acabaram entrando na disputa —como “Assassinos da Lua das Flores”, “Anatomia de uma Queda”, “Vidas Passadas” e “Zona de Interesse”. Cada um com uma oportunidade, maior ou menor, de se sair bem na noite deste domingo.
Pensando nisso, a Folha reuniu dez jornalistas, críticos e colaboradores para defender cada um dos longas que brigam pela principal estatueta da noite no Dolby Theater de Los Angeles. A pergunta feita a todos foi: por que este filme merece levar o Oscar?
Cada um foi encarregado de defender uma das produções escolhidas na votação promovida pelos membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.
Leia as defesas abaixo pela ordem alfabética dos longas.
Anatomia de uma Queda
Nadine Nascimento, editora-assistente da Ilustrada
No térreo, a escritora Sandra, personagem da magnífica Sandra Hüller, dá uma entrevista quando a música alta no sótão a interrompe. A canção, uma versão instrumental de “P.I.M.P”, uma música misógina do rapper 50 Cent, é um protesto do marido à escritora, que quase flerta com a pesquisadora à sua frente. O filho do casal, Daniel, vai passear com o cachorro e encontra o pai caído na neve, morto.
Foi um acidente? Suicídio? Assassinato? Sandra logo é acusada e enfrenta um julgamento.
O filme é certamente o um dos mais intrigantes desse ano. Ele explora temas profundos e emocionais, destacando a impossibilidade de conhecermos verdadeiramente alguém, mesmo quando compartilhamos a vida com essa pessoa
Enquanto o julgamento se desenrola e a verdade é questionada, a direção de Justine Triet mantém uma distância cirúrgica, incentivando o espectador a formar suas próprias opiniões. A obra desafia a busca por certezas, sugerindo que devemos aprender a conviver com a dúvida.
Assassinos da Lua das Flores
Leonardo Sanchez, repórter
Maior cineasta americano vivo, Martin Scorsese costurou sua trajetória na trajetória da própria Hollywood, e mesmo assim só foi reconhecido pelo Oscar uma única vez, pelo brilhante porém menor “Os Infiltrados”.
Com “Assassinos da Lua das Flores”, ele mostra que aos 81 anos continua sendo uma voz com algo a dizer, e mais ainda, que buscou se modernizar, com uma obra que alinha o bom cinema aos pedidos de revisionismo e diversidade que a própria premiação decidiu adotar.
O domínio de seu ofício fica claro no filme, como poucos diretores conseguem fazer, e seria uma pena ignorar este grande novo épico americano. Do jeito que as apostas vão, no entanto, é mais provável que Scorsese entre para o clube de Kubrick, Chaplin e Hitchcock, dos maiores diretores e também dos menos lembrados pelo Oscar.
Barbie
Inácio Araujo, crítico da Folha
Para apreciar “Barbie” convém esquecer o tema, esquecer a propaganda que cobre cada centímetro de tela e perceber a dificuldade que consiste em fazer de Barbie um personagem de seu tempo.
Greta Gerwig cuidou de cada detalhe. Primeiro, achou a perfeita Barbie em vida (Margot Robbie), depois, puxou-lhe o tapete, deixou-a descalça e sem saltos altos. Seu mundo cor-de-rosa se desfez. Para reencontrá-lo foi preciso reconstruir a boneca peça por peça para criar uma boneca feminista e contemporânea.
Está feito: “Barbie” tirou as meninas do Instagram e as levou aos cinemas vazios. Um triunfo.
Ficção Americana
Fernanda Ezabella, jornalista
A premissa é surrada: autor sofre porque não consegue vender seus livros “intelectuais” e de birra escreve um bem “ruim” que acaba virando o best-seller do ano. Mas acrescente o fato de que o escritor é negro e seus leitores e editores são na maioria brancos e, pronto, você tem um dos filmes mais provocativos e engraçados do Oscar.
O filme cutuca os estereótipos da indústrial cultural, e praticamente ninguém sai ileso. Estreia na direção de Cord Jefferson, indicado também por roteiro adaptado.
Maestro
Pedro Strazza, jornalista e crítico de cinema
“Maestro” é o filme mais deslocado no Oscar deste ano e por isso merece levar o prêmio. A cinebiografia recusa as convenções e aborda Leonard Bernstein por aquilo que considera essencial a sua figura íntima.
Este, no caso, é a relação do regente com a esposa, uma paixão de dois impulsivos que o filme traduz em um bate e rebate. Mas Bradley Cooper recusa o julgamento, montando com calma a jaula de amor criada pelo casal.
O longa assim escapa da lógica de experiência que domina a categoria principal este ano, com observações nada neutras que o impelem ao conflito. O público reconheceu isso, condenando-o ao ostracismo desde o começo. Mas “Maestro” ainda instiga —e melhor, comove—, permanecendo um mistério aberto.
Oppenheimer
Alessandra Monterastelli, repórter
Os efeitos devastadores da bomba atômica que definem o legado de Robert Oppenheimer não estão presentes no filme de Christopher Nolan em cenas cruas do horror.
Os diálogos conflituosos e as variações temporais tecem, pouco a pouco, uma intrincada disputa que se forma em torno de criatura e seu criador, enquanto testes explosivos no deserto monumental e a focalização do rosto perturbado de Cillian Murphy, potencializados pela filmagem em 65 milímetros, relembram que o desastre está sempre à espreita, evocado por decisões coletivas de poucos ou por obsessões individuais.
Unindo tecnologia arrebatadora e temática complexa, Nolan encheu as salas de cinema com a biografia de um cientista polêmico e pouco carismático, mano-a-mano com a boneca cor-de-rosa mais popular do mundo, provando que não só de franquias vive o cinema.
Pobres Criaturas
Guilherme Luis, repórter
Esquisito e perturbador, “Pobres Criaturas” mostra como é gostoso ficar com a cabeça zumbindo.
No seu melhor papel, Emma Stone barbariza como Bella Baxter, adulta com cérebro de bebê que aprende a viver na marra, sem rabo preso com ninguém, livre, leve e solta. É irresistível se inspirar nela e sair do cinema querendo ruir as normas da sociedade.
Com roteiro afinado, um elenco de apoio à altura da protagonista, e uma cinematografia alucinante, este é o pacote mais bem servido da safra.
Os Rejeitados
Henrique Artuni, editor-assistente da Ilustrada
O filme lembra que o futuro do cinema pode muito bem repousar nas formas clássicas e sua capacidade de ser íntimo e universal. E Alexander Payne sabe ser isso, sendo profundamente americano pelos trejeitos e desajustes de seus personagens, aproveitando a presença de Paul Giamatti.
É o famoso “diversão para toda a família”, com uma boa dose de irreverência. Mas no final o que se sobressaem são os seus silêncios.
Vidas Passadas
Nathalia Durval, repórter
Celine Song faz um retrato sensível e consistente sobre os mistérios do amor e do destino, ao acompanhar dois protagonistas que se encontram e se desencontram ao longo dos anos.
Não tem como passar imune ao longa, seja se emocionando e chorando com o final não exatamente feliz, seja rindo do marido que fica de vela. Além disso, passou da hora do Oscar premiar mais cineastas mulheres com o principal troféu —Song seria a primeira sul-coreana a conquistar tal feito.
Zona de Interesse
Isabella Faria, repórter
O Holocausto é um dos temas mais abordados no cinema, mas isso não significa que ele não possa se reinventar.
Aqui, Jonathan Glazer combina a vida “pacata” da família de um oficial nazista com uma edição conceitual e uma trilha sonora assustadora, ilustrando que a banalidade do mal, infelizmente, nunca sai de moda.
O filme é um chute na boca do estômago, porém, tudo é feito com muito respeito e certa poesia: o diretor mostra que sempre há tempo e espaço num filme para homenagear as vítimas do horror.
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Fonte: Uol