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Num país onde uma mulher é estuprada a cada 18 minutos, o crime contra uma garota de 13 anos chamou a atenção na Índia por outro motivo —seu pai a defendeu e foi atrás de justiça. O longo e doloroso julgamento de 14 meses foi registrado em duas horas de filme, indicado ao Oscar de melhor documentário.
“To Kill a Tiger” conta a saga de Ranjit, um plantador de arroz tomado de culpa pelo estupro coletivo da filha, no casamento de seu sobrinho, em 2017. A família mora numa vila rural de 110 mil habitantes no distrito de Ranchi, no estado de Jarcanda, leste do país.
É o mesmo estado onde uma turista brasileira foi estuprada por sete homens neste mês.
Como se não bastasse o tema, o documentário revira ainda mais o estômago com a reação dos moradores da vila. Eles pressionam e ameaçam Ranjit para que não processe os três adolescentes criminosos, presos no dia seguinte.
A proposta da comunidade é que a garota se case com um dos estupradores. No julgamento, a advogada de defesa culpa a vítima por “dançar com seus amigos” e diz: “Aqui é Jarcanda. Não é o Ocidente. Aqui não posso confiar nem mesmo no meu filho”.
A diretora Nisha Pahuja diz que o filme surgiu durante uma pesquisa sobre masculinidade que fazia para uma ONG indiana. Foi quando ela conheceu o caso de Ranjit, uma raridade num país em que 90% dos estupros não são reportados.
A equipe do filme chega a ser expulsa, levantando a questão sobre o quanto a presença das câmeras ajudou a azedar o clima entre os moradores.
“Achei que fazia sentido mostrar esse embate para criar transparência e honestidade com o público. E para dizer que isso é o que significa fazer um documentário”, disse Pahuja num painel de indicados ao Oscar, em Los Angeles.
A diretora, que nasceu na Índia e foi criada no Canadá, afirma que não queria fazer julgamento de ninguém.
“Depois de tantos anos trabalhando e morando na Índia, percebi que eu realmente não tenho direito de julgar o processo de pensamento, a cultura, o jeito de ser ou as ideias que são estrangeiras para mim ou que são eticamente desafiadoras”, afirma Pahuja.
Hoje a vítima está com 20 anos e saiu da vila para continuar estudando. Algumas semanas atrás, passou no exame da Academia de Polícia. “Desde os 13 ela decidiu que queria ser policial”, diz a diretora.
A equipe se debateu com a questão de mostrar ou não seu rosto no documentário e deixou que ela mesma tomasse a decisão. “O filme levou anos para ficar pronto, e, no final, ela já tinha 18 anos. Então começamos a ter essa conversa com ela e mostramos o corte final. Ela deixou.”
Os acusados se declararam inocentes e acabaram condenados a 25 anos de prisão, a mais longa sentença já dada para um crime de estupro no estado. Eles cumprem a pena, mas entraram com recurso.
Já Ranjit vai bem. “É meu convidado no tapete vermelho do Oscar no domingo”, diz Pahuja. Todos os documentários indicados ao Oscar deste ano são estrangeiros. “To Kill a Tiger”, apesar de disponível na internet nos Estados Unidos, ainda não pode ser visto no Brasil.
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Fonte: Uol