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O Prêmio Sesc de Literatura, conhecido por revelar novos escritores, vem sendo acusado de homofobia e de censurar o romance que laureou no ano passado, “Outono de Carne Estranha”, de Airton Souza, sobre a paixão entre dois homens garimpeiros.
A polêmica levou o Grupo Editorial Record, parceiro da premiação, a ameaçar suspender o acordo de 20 anos que mantém com ele.
A empresa reclama que o Sesc não realizou a tradicional turnê de divulgação do livro de Souza e de Bethânia Amaro, vencedora da categoria contos no último ano, por unidades da instituição pelo país. Diz ainda que a demora para a publicação do edital deste ano, em geral divulgado em janeiro, é injustificada, e cita rumores de que o serviço pretende implementar uma instância de avaliação interna.
Por fim, queixa-se de que não foi informada sobre a opção por demitir um dos idealizadores da premiação, o escritor Henrique Rodrigues —afastado em janeiro, segundo ele sem que lhe apresentassem motivos para isso.
Em nota, o Sesc diz que “se reserva o direito de selecionar e manter funcionários que atuem em sintonia com a filosofia e cultura da instituição” e que o prêmio é gerido por uma equipe de profissionais da área de literatura do Departamento Nacional da instituição.
Também nega ter exercido qualquer tipo de censura e não comenta a suposta criação de conselho para avaliação de originais. Afirma que a próxima edição do prêmio acontecerá, e que seu adiamento se deve a uma “revisão no regulamento do concurso com objetivo de ampliá-lo”.
O imbróglio teve início após um mal-estar ocorrido na última edição da Flip, a Festa Literária de Paraty, em novembro passado. Na ocasião, Airton Souza leu um trecho de seu romance numa mesa noturna organizada pelo Sesc que descrevia uma cena de sexo entre dois homens.
À Folha, Rodrigues afirma que a escolha desagradou os diretores da instituição presentes no local.
O Sesc alega que não houve desconforto, mas uma preocupação com o teor do trecho lido, “pois tratava-se de um conteúdo sensível, adequado apenas para o público adulto, e o evento tinha a presença de crianças e adolescentes”.
“Eles são muito tradicionais, eu já sabia que poderiam torcer o nariz. Mas o Airton estava muito emocionado, e já havia lido o mesmo trecho na Casa Record, em outro momento da Flip”, diz o escritor. “Ele insistiu, e não seria eu quem diria que o vencedor do Prêmio Sesc não poderia ler seu livro.”
“Para o público, foi tudo bem, para a Record também. Mas, quando terminou, minha gerente me puxou de canto dizendo que seríamos demitidos. No dia seguinte, houve uma panaceia, criaram um estardalhaço. As chefias ficaram profundamente insultadas.”
Nas redes sociais, Souza chamou o episódio de “criminoso” e “inexplicável”. “Homofobia, censura e assédio moral. Um livro tão bonito sofrendo uma perseguição forte. O bom é saber que gente que eu amo e que admiro estão na mesma trincheira que eu”, escreveu.
Rodrigues entrou de férias depois da Flip. Quando voltou, relata ter ouvido de sua gerente que o Sesc pretendia transferir a gerência da premiação de literatura para a unidade de Paraty e criar uma instância de avaliação interna para avaliar os livros vencedores.
Na opinião do escritor, o objetivo da instituição seria filtrar as escolhas dos jurados, o que para ele prejudicaria a imparcialidade e lisura da premiação.
Um dia depois da conversa com a gerente, Rodrigues foi demitido. “Até a Flip eu era um funcionário exemplar. Adoravam que eu resolvesse pepinos burocráticos. Depois da leitura do livro do Airton, virei um vilão.”
A Record, que publica os vencedores do prêmio desde sua criação, também está insatisfeita. Cassiano Elek Machado, diretor do grupo editorial, afirma que não presenciou o episódio na Flip, mas que a empresa repudia censura e homofobia e tem entre os seus pilares.
Se não houver um retorno rápido do Sesc diante das reclamações, portanto, a editora encerrará a parceria. “Precisamos que sejam mantidas as bases que sempre tivemos, como os jurados independentes. Precisamos também que apresentem um plano para a divulgação dos vencedores, e uma justificativa, ou desculpa formal, para tudo o que tem acontecido”, afirma.
O incidente ocorre na esteira de outra polêmica envolvendo acusações de censura no meio literário. Na sexta-feira passada, 1º de março, Janaina Venzon, diretora da Escola Ernesto Alves, em Santa Cruz do Sul (RS), pediu que “O Avesso da Pele”, de Jeferson Tenório, que trata de questões raciais, fosse vetada.
Em vídeo postado em seu perfil do Instagram, Venzon disse que a obra é inadequada aos estudantes do ensino médio por conter passagens que chamou de palavras de “nojentas”. Depois disso, a Secretaria de Educação gaúcha determinou que escolas da cidade mantivessem seus exemplares do livro.
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Fonte: Uol