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Ana Beatriz de Oliveira diz que decisão do MEC resultou em erros na classificação de candidatos às vagas de ampla concorrência, que foram destinadas a cotistas, e no cancelamento inédito dos convocados. Reitora da UFSCar fala sobre erro e anulação da lista de 2ª chamada
Nesta semana, a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) anulou a lista de segunda chamada para os interessados em ingressar em seus cursos de graduação, após reclamações de candidatos que tiveram notas melhores do que os convocados e se sentiram prejudicados. Uma nova lista para matrícula deverá sair na segunda-feira (11).
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Foi a primeira vez na história do vestibular da UFSCar que uma lista de convocados para matrícula foi cancelada.
De acordo com a reitora da UFSCar, Ana Beatriz Oliveira, uma cadeia de eventos desencadeou erros na classificação das vagas de ampla concorrência, que foram destinadas a cotistas, causando transtornos a centenas de candidatos que já haviam apresentado os documentos para a matrícula e se consideravam alunos da universidade.
Em entrevista ao g1, Ana Beatriz explicou como aconteceram as falhas e também falou sobre os alunos prejudicados. Nesta reportagem você vai ver:
Nova lei de cotas
Tempo curto de implantação das mudanças e erro no algoritmo
Falta de testes de sistema
Cinco dias para identificação de erro
Formas de reparação aos candidatos prejudicados
“A gente tem primeiro uma decisão do Ministério da Educação (MEC) para aplicar a lei de cotas. Isso gerou um tempo muito curto para todas as universidades se adequarem ao processo. Nós fizemos adaptações necessárias aqui e depois de publicada a lista da segunda chamada, recebemos reclamações de candidatos que ficaram de fora do requerimento de matrícula. Foi identificado um erro na geração dessas listas, o que nos levou à decisão de suspender tanto a segunda chamada para matrícula como a lista de manifestação de interesse porque havia nela também um vício de origem que invalidava o processo.”
Reitoria da UFSCar em São Carlos
Gabrielle Chagas/g1/Arquivo
Dos 66 cursos oferecidos para a UFSCar, houve lista errada em 61. Ana Beatriz diz que o mesmo problema ocorreu em outras universidades.
“Foi uma cadeia de eventos que levou a esse erro na UFSCar e em outras universidades que passam pelo mesma situação. Todo o sistema, nesse momento, monitora as listas, sabendo que há grande risco de erro em função dessa nova maneira de preencher as vagas”, disse.
O g1 procurou o MEC para saber dos problemas ocorridos na UFSCar e em outras universidades que tiveram as listas de interesse de vaga e convocação para as segundas chamadas canceladas. O Ministério disse que o problema ocorreu na UFSCar , mas negou que houvesse em outras unidades (leia mais abaixo).
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1 – Nova lei de cotas
Segundo a reitora, a nova lei de cotas insere uma série de novos procedimentos para gerar as listas, já que antes a ampla concorrência e as cotas eram trabalhadas em blocos separados e os candidatos competiam dentro das suas categorias de descrição.
“Os candidatos à ampla concorrência disputavam 50% das vagas, os cotistas os outros 50% divididos em até oito grupos. Agora, os grupos se movimentam e o que a gente tem que fazer é preencher todas as vagas da ampla concorrência com todos os candidatos com maiores notas, independentes se eles são de ampla concorrência ou de cotas”, explicou Ana Beatriz.
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Ana Beatriz Oliveira, reitora da UFSCar
Reitoria da UFSCar/Divulgação
2 – Tempo curto de implantação das mudanças e erro no algoritmo
A nova política de cotas foi aprovada no final de outubro e sancionada pelo presidente Lula em novembro. Mas, de acordo com a reitora, a universidade foi comunicada que o MEC iria implantar a nova lei no Sisu de 2024, apenas um dia antes da publicação do edital da UFSCar de adesão ao Sisu, o que não deu tempo para a universidade ter pleno entendimento da lei, ao mesmo tempo em que se comprometeu a cumpri-la.
“A decisão do MEC que a lei de cotas seria aplicada chegou 24 horas antes de a gente publicar nosso edital. Além disso, os problemas que aconteceram na primeira chamada atrasaram que os dados chegassem aqui para que a gente trabalhasse”, afirmou Ana Beatriz.
A universidade alega teve menos de dois meses para fazer as adaptações necessárias no sistema que gera as listas de candidatos para as manifestações de interesse e convocação para matrícula.
“A operacionalização da lei de cotas foi uma decisão tomada pelo MEC, sem a participação das universidades com um período de tempo curto para que a mudança necessária do algoritmo fosse realizada com segurança. Então, nós vimos na primeira lista que foi divulgada pelo MEC uma série de revogações consecutivas. É o que está acontecendo aqui, nós que geramos a segunda lista e enfrentamos as mesmas dificuldades, não teve em nenhum momento uma orientação do MEC de como fazer essa operacionalização.”
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Ana Marin/g1
3 – Falta de testes de sistema
Ainda segundo a reitora, o tempo curto não deu possibilidade à universidade de testar como deveria o sistema que havia sido adaptado às novas regras.
“Ele foi testado, mas quando você desenha um programa de computador, precisa colocar todas as situações possíveis e isso não foi possível fazer, o que ocasionou esse erro quando nós processamos a segunda chamada. Vale lembrar que é um processamento grande, o número de candidatos que competem e disputam as vagas é alto e foi diferente do que a gente pôde conseguir simular nos testes realizados. Nos testes a gente não conseguiu simular a situação real . Os testes são eficientes quando são realizados exaustivamente e o tempo curto não possibilitou”, admitiu.
4 – Cinco dias para identificação de erro
Entre o início das denúncias de erros da lista de convocação e a anulação da segunda chamada, passaram-se cinco dias. No início, a UFSCar chegou a validar a lista, mas voltou atrás e anunciou uma auditoria.
“Nós divulgamos a segunda chamada do vestibular da UFSCar na semana passada e a partir da divulgação começamos a receber queixas de candidatos com um bom desempenho que não tinham sido convocados. Nós fizemos uma auditoria mais geral e não conseguimos identificar os problemas em função disso. Aprofundamos a análise que foi concluída na manhã de segunda e, nesse processo, identificamos um erro no algoritmo que gerava as listas tanto de manifestação de interesse quanto de convocação para o requerimento de matrícula, o que nos fez cancelar a segunda chamada e refazer esse processo”, informou Ana Beatriz.
A demora para o cancelamento da lista, segundo a reitora, foi para que a avaliação fosse feita com cuidado.
“Foi muita cautela porque não poderia haver um segundo equívoco, então todas as decisões foram tomadas com assessoria jurídica da nossa procuradoria federal. Nós também dialogamos com o próprio MEC e com o Ministério Público Federal dando ciência de tudo que foi feito e conduzido para que o processo fosse feito com lisura com cautela e com a seriedade que ele merece”.
Campus da UFSCar em São Carlos 2020
Gabrielle Chagas/G1
5 – Formas de reparação aos candidatos prejudicados
A universidade diz que não tem como mensurar quantas pessoas foram prejudicadas pela confusão das listas. De acordo com a reitora, somente após a manifestação dos interessados da quarta e última lista, que termina em 14 de abril, será possível saber quantos alunos convocados na segunda chamada, não conseguiram vaga na UFSCar.
A reitora explica que não há como garantir vaga para todos os convocados erroneamente na segunda chamada.
“Desde o início, nós trabalhamos com a possibilidade de absorver todas essas pessoas no processo, o que não se mostrou possível dado o número de candidatos convocados equivocadamente. Então, nós estamos trabalhando na reformulação do processo. Esperamos que as próximas chamadas – de segunda a quarta – possam absorver todas essas pessoas ou maior número possível”, afirmou.
A universidade irá dar prioridade aos alunos prejudicados no oferecimento de vagas remanescentes, o que deve ocorrer a partir de maio, mesmo que elas não sejam no curso de primeira opção pelo candidato.
“Consecutivamente tem sobrado vagas na universidade em vários cursos, eu sei que isso pode não atender as pessoas que estão focadas em um curso específico, mas pode ser que tenham outras pessoas que avaliam a possibilidade de fazer o curso superior ou entrar na universidade por essa porta e tentar depois uma transferência. Se se candidatarem ao edital de vaga remanescente e tiverem participado desse processo seletivo, elas vão ter prioridade. Isso é o que ei posso afirmar e garantir porque é livre para universidade estabelecer os critérios para preenchimento das vagas remanescentes”.
A reitora disse também que há o estudo de uma nova chamada do ProUni, já que houve pessoas que desistiram da bolsa em uma faculdade particular pelo programa, por acharem que haviam passado na universidade pública.
“Porque o problema não foi só na UFSCar. O problema aconteceu nas semanas anteriores em outras universidades. Os candidatos que porventura desistiram do seu processo no ProUni teriam uma nova chance. Apesar desse problema ter iniciado no MEC, eu sinto no MEC, na Secretaria de Educação Superior uma sensibilidade para nos apoiar e para também minimizar as consequências para os estudantes que foram prejudicados”.
Problemas em outras universidades
O g1 procurou o MEC para saber do tempo dado as universidades para a absorvição dos novos parâmetros e a existência dos mesmos problemas da UFSCar em outras universidades.
O ministério disse que “as Instituições de Ensino Superior que ofertam vagas pelo Sisu não utilizam o sistema, que é gerido exclusivamente pelo MEC e recebem relatórios do MEC, com a listagem e o ranqueamento dos candidatos, obedecendo aos critérios previstos na Lei de Cotas. Elas então utilizam essas informações para fazer as convocações, tanto para a Chamada Regular quanto para a Lista de Espera”.
Disse ainda que “os relatórios encaminhados para a UFSCar não continham erros. A instituição teve problemas em seu sistema interno de convocação, após inserir e processar os relatórios”.
O MEC disse que não foram registradas ocorrências similares em outras Instituições de Ensino Superior, porém o g1 apurou que houve adiamento, anulação e cancelamento de listas de espera em pelo menos cinco universidades:
UFPB – Universidade Federal da Paraíba
UFBA – Universidade Federal da Bahia
UFMA – Universidade Federal do Maranhão
UFSM – Universidade Federal de Santa Maria
UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais
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Fonte: G1