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Uma ditadora furiosa e hipocondríaca é capaz de cometer atrocidades para ser adorada. Sua atenção é dividida entre medir obsessivamente a umidade do ar que respira, para evitar possíveis infecções pulmonares, e ditar os rumos de um país fictício na Europa atual.
Quem dá vida à déspota neurótica é ninguém menos que Kate Winslet, veterana de Hollywood que encarna sua terceira protagonista em uma série da HBO, agora numa nova casa, a plataforma de streaming Max, antiga HBO Max.
É nela que está “O Regime”, a partir deste domingo, dia 3, ao lado de títulos como “Succession”, que abocanhou as principais categorias do último Emmy, e “True Detective: Terra Noturna”, que retomou a franquia icônica, agora com Jodie Foster como investigadora.
Eternizada no cinema pelos seus papéis em “Titanic”, “O Leitor”, que lhe rendeu um Oscar, e “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças”, foi também como detetive que Kate Winslet conquistou o seu segundo Emmy, há três anos, por “Mare of Easttown”, depois de ser consagrada em 2011 por “Mildred Pierce”. Na produção, ela era uma investigadora introspectiva e durona, que enfrentava traumas pessoais enquanto indagava sobre um assassinato no pacato interior da Pensilvânia.
Muito diferente dos personagens dramáticos que conduziram sua carreira, Elena, a ditadora encarnada em “O Regime”, é cômica. Depois de chegar ao poder e exilar o ex-governante do país —que ela categoriza como “esquerdista” e “neomarxista”—, ela zanza pelo enorme palácio e transita entre decisões pertencentes a campos políticos opostos, como permitir a exploração americana dos minérios de seu país ou fazer uma reforma agrária. Com frequência, ela faz visitas ao cadáver de seu pai, imaculado em uma sala, para esfregar na cara do morto as suas conquistas.
“Nunca interpretei algo assim antes, porque nunca achei uma produção de comédia que funcionasse”, diz Kate Winslet em conversa com jornalistas, gesticulando com empolgação. “Mas quando li o roteiro, pensei, ‘meu Deus, quem é essa mulher?’. Ela é terrível, engraçada, vulnerável, insegura, furiosa, emocionalmente fraturada por uma estranha infância e está na menopausa.”
Apesar de a narrativa girar em torno da personagem de Winslet, a série começa quando Zubak, um soldado de origem camponesa com requintes para a violência, é contratado para protegê-la. Ele a idolatra, e é sob sua influência que Elena passa a defender fantasias nacionalistas, como o culto às tradições seculares, o isolamento do resto do mundo e até a invasão de uma região vizinha. O seu desespero por popularidade é o estopim para uma série de absurdos hilários.
Qualquer semelhança com o mundo de hoje não é mera coincidência. “A série fala sobre populismo, extrema direita e ditadores em um momento em que esses problemas estão em ascensão novamente”, diz Jessica Hobbs, que dirige “O Regime” ao lado de Stephen Frears, depois de trabalhar em “The Crown”.
Curiosamente, Frears também traçou sua carreira no cinema, e foi indicado a duas estatuetas do Oscar, pela direção de “Os Imorais” e “A Rainha”, antes de se dedicar à produções para a televisão britânica na década de 2010. “Quando eu era jovem, o cinema era central em nossas vidas”, diz ele, aos 82 anos. “Hoje, a televisão está no centro.”
Kate Winslet, celebrada a cada nova produção serializada, diz que ama trabalhar com o formato e que não vê diferenças na rotina do trabalho ou no tamanho das equipes. O que muda, conta, é o tempo dedicado aos personagens, que nas séries dão ao ator mais tempo para mergulhar no trabalho.
“É como fazer um filme de seis horas. Tem mais história para contar e mais personagem para encarnar”, diz, referindo-se aos seis episódios de 50 minutos cada de “O Regime”.
Como ditadora, detetive, paleontóloga lésbica no século 19, que ela vivenciou em “Ammonite”, fazendo par com Saoirse Ronan, ou ainda encarnando uma correspondente de guerra, na cinebiografia sobre Lee Miller que deve estrear mundialmente em setembro, é por papéis de mulheres complexas que Winslet se interessa. Personagens que, para alguém que observou de perto as mudanças em Hollywood nas últimas duas décadas, finalmente encontram os holofotes nos dias de hoje.
“Antes, as personagens femininas eram a garota linda que vivia na vizinhança, com quem o cara tinha um caso. Até a forma como os homens se referem às mulheres nos filmes mudou. Estamos vivenciando as narrativas de forma muito diferente do que sempre foi, e temos histórias que queremos contar e ouvir”, diz a atriz.
A fama veio cedo com “Titanic”, quando ela tinha apenas 23 anos e, como afirmou em entrevistas recentes, precisou conviver com pressões constantes sobre seu comportamento enquanto mocinha de Hollywood. “Aprendi cedo que não há como forçar as pessoas a gostarem de você, é perda de tempo. Eu só tento ser uma pessoa decente”, rebate.
Winslet cita o MeToo como um divisor de águas para as mulheres na indústria cinematográfica. “A sociedade vem mudando. Agora as pessoas ouvem, e podemos contar nossas histórias. Podemos ser nós mesmas, e somos falhas também. Eu acho que é um momento muito interessante para ser atriz.”
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Fonte: Uol