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Em claro sinal das profundas divisões em relação a guerra Israel-Hamas, milhares de artistas assinaram uma carta aberta pedindo para que a Bienal de Veneza proíba “qualquer representação oficial de Israel” no evento mais importante do mundo da arte.
A resposta do ministro da Cultura da Itália e da Bienal foi divulgada esta semana: Israel vai participar. A Bienal declarou em comunicado nesta quarta-feira, 28, que qualquer país reconhecido pela Itália poderia solicitar participação. A Bienal não irá considerar “qualquer petição ou apelo para excluir países”, acrescentou.
As reações vieram depois de Gennaro Sangiuliano, ministro da Cultura da Itália, emitir uma declaração muito mais forte em apoio à participação de Israel.
“Israel não só tem o direito de expressar sua arte, como tem o dever de representar o seu povo precisamente em um momento como este, quando foi brutalmente atingido por terroristas impiedosos”, disse Sangiuliano.
“A Bienal de Arte de Veneza será sempre um espaço de liberdade, encontro e diálogo e não um espaço de censura e intolerância”, acrescentou.
Israel está programado para ser representado por Ruth Patir na Bienal deste ano, que será realizada de 20 de abril a 24 de novembro. Sua exposição no pavilhão israelense, intitulada “Mãe Pátria”, reflete sobre o relacionamento da artista com a maternidade.
Durante os quase 130 anos de história da Bienal de Veneza, países que enfrentaram turbulências políticas estiveram ocasionalmente ausentes. A África do Sul foi banida durante parte da era do apartheid. E o imponente pavilhão da Rússia foi fechado desde sua invasão da Ucrânia.
Em 2022, Kirill Savchenkov e Alexandra Sukhareva, os dois artistas programados para representar a Rússia na Bienal daquele ano, desistiram do evento, dizendo que não havia “lugar para arte quando civis estão morrendo sob o fogo de mísseis”. A Bienal posteriormente anunciou que “não aceitaria a presença” de qualquer pessoa com vínculos com o governo russo no evento daquele ano.
Na sua declaração desta quarta-feira, a Bienal enfatizou que foi o governo da Rússia que anunciou “que não participaria” do evento deste ano.
A carta aberta instando a Bienal a excluir Israel foi publicada na segunda-feira, 26, pelo Art Not Genocide Alliance, um grupo ativista. A carta, que citou “atrocidades contínuas contra os palestinos em Gaza” e não mencionou os ataques iniciais do Hamas em 7 de outubro, disse que “qualquer representação oficial de Israel no palco cultural internacional é um endosso às suas políticas.”
Entre os mais de 17 mil signatários estavam vários artistas proeminentes, incluindo o fotógrafo Nan Goldin e Jesse Darling, o mais recente vencedor do Prêmio Turner de arte britânica. Nomes de artistas programados para representar Albânia, Chipre, Finlândia, Islândia, Lituânia, Nigéria e Zimbábue na Bienal deste ano também apareceram como signatários.
Desde que Israel iniciou sua campanha retaliatória, a guerra entre Israel e o Hamas tem criado uma sombra sobre os importantes eventos culturais da Europa. O Eurovision, importante festival de música, está envolvido em um debate semelhante sobre a participação de Israel, e vários cineastas que fizeram discursos no Festival de Berlim em apoio aos palestinos enfrentaram reações adversas de autoridades alemãs e israelenses, incluindo acusações de antissemitismo.
No mundo da arte global, muitos artistas temem que falar publicamente a favor de um cessar-fogo possa afetar negativamente suas carreiras. Uma carta aberta sobre a guerra publicada na revista Artforum em outubro levou à demissão do seu editor-chefe.
A carta da Art Not Genocide Alliance também criticou o tema da exposição de Ruth Patir em um momento em que crianças em Gaza são mortas e mães perderam acesso a instalações médicas.
Patir e os dois curadores de sua exposição se recusaram a comentar. Em outubro, eles emitiram um comunicado à ARTnews, explicando que seu pavilhão seguiria conforme planejado, mesmo que tivessem sido “deixados atordoados e aterrorizados” pelos ataques do Hamas, bem como pela “crescente crise humanitária em Gaza”.
“Nós nos apegamos à crença de que deve haver um espaço para arte, para expressão e criação livres, no meio de tudo o que está acontecendo”, disse o comunicado. “Do contrário, podemos muito bem sustentar que os extremistas venceram”, acrescentou a declaração.
A carta aberta chamou essa visão de simplista, dizendo que os artistas palestinos não têm liberdade de expressão e que isso estabelece “outro critério injusto”.
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Fonte: Uol