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A história da protagonista de “Levante” não é baseada em fatos, mas não destoa da realidade das periferias brasileiras. Aos 17 anos, a jogadora de vôlei Sofia, vivida por Ayomi Domenica, recebe a proposta de uma bolsa para estudar no exterior e descobre que está grávida.
O que o filme mostra a partir de então é um convite à reflexão sobre a legalização do aborto e a forma hipócrita como alguns cristãos reagem ao tema.
Premiado numa mostra paralela do Festival de Cannes no ano passado, o filme de Lillah Halla mostra o drama de uma jovem negra que tem poucas oportunidades na periferia de São Paulo. Criada apenas pelo pai, papel de Rômulo Braga, ela vê no esporte uma forma de conquistar um futuro, fazer amizades e se divertir.
Ao contrário da personagem homônima famosa, a Sofia de “Levante” não tem dúvidas sobre sua escolha. Decidida pelo aborto, procura por uma clínica clandestina e, a partir de então, começam as várias tentativas para demovê-las da ideia.
Ela ouve clichês. “Chegou a considerar ter o bebê?”, diz um médico. “Esse não é o jeito de resolver as coisas”, afirma o pai. E também acusações como “assassina” da torcida que jogou contra.
Mas o maior embate vem do contato com uma suposta clínica clandestina. O local de fachada, na verdade, é feito para mobilizar a comunidade local, em especial de cristãos, contra a interrupção da gravidez das jovens que chegam lá.
O drama vivido por Sofia é interpretado com esmero por Domenica, que nos faz sentir os mesmos medos e ter as dúvidas e incertezas de sua decisão. E daí penso se faria a mesma escolha que ela.
Como cristã, defendo o direito à vida. E vida em abundância, como Jesus prometeu. Mas, como mulher, não consigo ignorar a realidade de tantas que sofrem as consequências de abortos clandestinos, principalmente jovens e negras. No Brasil, o aborto ocorre antes dos 19 anos para metade das mulheres que dizem ter feito procedimento.
E como não considerar o trabalho das mães solo que se desdobram na educação e cuidados dos filhos?
No filme, essa reflexão ficou por conta de uma médica do Uruguai, para onde Sofia, acompanhada do pai, vai tentar interromper a gravidez. No país vizinho, o aborto é permitido em mulheres com até 12 semanas de gestação, ou 14 em casos de estupro.
“Muitas vezes, é muito mais arriscado seguir adiante com uma gravidez do que interrompê-la em condições seguras. Mas sobre isso não se fala muito”, diz a médica a Sofia e ao pai.
No Brasil, e talvez em outras partes do mundo, o que se fala muito é sobre a prática criminosa da mulher que interrompe a gravidez ou de quem defende a legalização do aborto.
No viés religioso apontado no filme, para alguns é mais fácil usar a “palavra de Deus” para condenar a mulher do que usar as palavras de consolo e acolhimento, também presentes na Bíblia, para amenizar sua angústia, sofrimento e dor. Infelizmente, a arte imitou a vida.
Ainda sobre a questão religiosa, o filme mostra uma caricatura do que a sociedade entende sobre ser cristão, dos costumes até a garantia de que ser crente dá à sociedade, o tal “cidadão de bem”.
Talvez alguns evangélicos podem até se sentir ofendidos por como são tratados nas cenas, mas outros podem se enxergar nelas, se vendo como num espelho, e perceber que ser cristão é muito mais do que a roupa que veste ou o vocabulário que usa.
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Fonte: Uol