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A realidade nos rincões do Brasil mostra que a gourmetização do café é um fenômeno ainda restrito aos grandes centros urbanos.
Dados da própria indústria revelam que a venda de café gourmet de fato cresce em ritmo muito mais acelerado do que o pó tradicional, como mostrou o Café na Prensa.
No interior menos urbanizado do Brasil, contudo, a realidade é outra. De padarias a cafeterias, nada de grãos especiais, de origem única etc. O que se vê são cafés tradicionais.
Em dezembro de 2023, o Café na Prensa percorreu mais de 2.500 km pelo sertão dos estados de Alagoas, Pernambuco, Bahia e Piauí. O blog visitou dezenas de estabelecimentos como cafeterias e padarias em cidades de pequeno, médio e grande porte, como Piranhas (AL), São José da Tapera (AL), Petrolina (PE), Remanso (BA) e São Raimundo Nonato (PI).
Nesses lugares, aliás, reina a Santa Clara, marca do grupo 3Corações que é líder do mercado nas regiões Norte e Nordeste. É difícil ir em uma padaria ou cafeteria mais bem estruturada e não se deparar com louças ou porta-guardanapos fornecidos pela empresa.
Café especial ou gourmet é algo que sequer passa pela cabeça dos comerciantes e consumidores dessa região. Prevalece a ideia de que café é café. No máximo mais forte ou mais fraco. Nada de distinguir atributos como doçura ou acidez, como se faz no mercado gourmet.
A exceção fica por conta de cidades localizadas perto de regiões produtoras de café, nas quais é comum que haja cafeterias com proposta gourmet, muitas vezes pertencentes aos próprios fazendeiros que cultivam o grão.
Dito isso, é preciso salientar que o café tradicional hoje é muito melhor do que era há alguns anos. O manejo no Brasil tem melhorado mesmo nessas categorias mais populares —ao menos das grandes marcas.
Se antes era comum encontrar cafés com notas sensoriais tostadas, carbonizadas e gosto de fumaça, hoje o que se vê é uma bebida com amargor menos acentuado. Esse sabor excessivamente amargo ainda pode ser encontrado nos rótulos da classe extraforte.
É claro que o preço mais elevado dos cafés gourmet e especial é uma barreira intransponível para parcela significativa da população, mas a quase inexistência da gourmetização no interior vai além do aspecto econômico. Mesmo em estabelecimentos sofisticados de cidades com poder aquisitivo mais elevado, como Petrolina, o café servido é tradicional.
Petrolina, aliás, é a única cidade de todas as visitadas pelo blog com cafeterias focadas em café especial, como a Café de Bule, que existe há anos, e a recém-inaugurada The Lopes Coffee.
Ao tirar o foco das capitais e olhar o Brasil em sua completude, é fácil entender por que, embora o mercado gourmet cresça em ritmo tão acelerado, ainda não chega nem a 10% dos cafés vendidos no país, segundo dados da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café).
Por isso, quando se discute pureza, qualidade e responsabilidade sócio-ambiental no consumo de café, não basta advogar para que o consumidor mude de hábito e passe a consumir café especial —que, de fato, tem essas questões como pré-requisitos. Fazer isso deixaria de fora a maior parte da produção.
É preciso cobrar que as grandes empresas de café tradicional continuem fazendo uma bebida cada vez mais pura e equilibrada e que passem a adotar uma estratégia mais eficaz de rastreabilidade social e ambiental.
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Fonte: Folha de São Paulo