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Fabricio Bloisi, CEO da iFood, tem um sonho: que daqui a cinco ou dez anos, ninguém mais queira cozinhar em casa.
Isso porque, na sua visão, pedir comida (por qual aplicativo, mesmo?) custará o mesmo que comprar os ingredientes no mercado.
Ele sabe que isso não acontecerá. Usou retórica megalômana para sobrevalorizar a empresa que representa. E, presumivelmente, trabalha para se aproximar do cenário que descreveu.
Mais tarde, com a péssima repercussão da entrevista publicada na Folha, Fabricio emitiu uma nota dizendo que o título da matéria causou um mal-entendido.
O que aconteceria se todos aposentassem o fogão de casa para pedir iFood no almoço e na janta?
Seria catastrófico.
Nos primeiros anos, tudo sairia como nos planos dos sr. Bloisi. O delivery de refeições bombaria. A demanda faria crescer o número de restaurantes.
Num estágio posterior, a maioria desses restaurantes iria à bancarrota porque: 1) nem só de entrega vive um restaurante, mas essa é a única demanda que cresceria e; 2) como todo mundo no setor está careca de saber, o modelo de negócio do iFood preda a já escassa margem de lucro dos parceiros.
Sobreviveriam as dark kitchens, que têm custos operacionais muito inferiores aos dos restaurantes. Já teríamos um cenário devastado, quase um apocalipse dos restaurantes.
Mas fica pior.
No prazo longo, quem cozinharia para essas entregas? Com quem essas pessoas aprenderiam a cozinhar?
O CEO da iFood compara o ofício da cozinha com o da costura (“assim como a gente não produz mais roupa em casa”). É uma analogia descabida.
A costura sempre foi um trabalho muito mais especializado do que a cozinha. Em todas as épocas e em todas as culturas, sempre um grupo reduzido de pessoas confeccionou as roupas da maioria.
Cozinhar é tão vinculado à sobrevivência que qualquer um aprende e executa quando a necessidade chama.
Sem essa necessidade, quem arriscaria um arroz empapado no meio da madrugada? Sem uma cultura de cozinha na própria família, o que despertaria a vocação dos operários do império do iFood?
Cozinha, antes de ofício, é cultura. Matar a comida caseira é assassinar a cultura. Acho que ninguém quer isso, nem o sr. iFood.
Até porque o negócio dele também seria gravemente ferido. A comida “de qualidade, saudável” se tornaria ruim, insalubre.
O que sobraria? A comida industrial, baseada em planilhas, processos e ingredientes padronizados.
O iFood, embora ferido, poderia até sair vivo dessa. Afinal, um de seus negócios é entregar compras de supermercado.
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Fonte: Uol