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No ano de 1985, numa pequena cidade da Irlanda, um comerciante de carvão vai entregar alguns sacos no convento local. Ao chegar lá, ele se depara com uma jovem sendo levada contra a sua vontade para dentro do lugar, enquanto clama por seu pai.
O fato atinge profundamente Bill Furlong, homem de família dedicado, que passará a se preocupar com o destino das moças grávidas e de seus bebês, bem como de suas quatro filhas, numa cidade controlada pelo silêncio que emana da Igreja Católica.
Interpretado por Cillian Murphy —ator cotado para levar o Oscar no próximo mês por sua atuação em “Oppenheimer”—, o comerciante mergulha em lembranças de seu próprio passado e na relação ambígua e conflituosa com a mãe nos anos 1950.
Assim avança “Small Things Like These”, ou coisas pequenas como essas, filme de abertura da 74ª edição do Festival de Cinema de Berlim e que participa da competição principal. Dirigido pelo belga Tim Mielants, que trabalhou com Murphy em seis episódios da série “Peaky Blinders”, o filme tem Matt Damon como um de seus produtores.
Na entrevista da equipe para a imprensa, na última quinta, Murphy disse que sua mulher chamou sua atenção para o livro de Claire Keegan —inédito no Brasil, mas com uma versão em Portugal chamada “Pequenas Coisas como Estas”, da editora Relógio d’Água.
“É um best-seller na Irlanda. Parecia que todo mundo havia lido esse livro. E, miraculosamente, os direitos para filme estavam disponíveis”, afirmou o ator, que foi mostrando o projeto para amigos da área, incluindo Matt Damon, com quem contracenou nas filmagens de “Oppenheimer”.
“Como produtor, foi muito simples entrar nesse projeto por conhecer essas pessoas que estavam envolvidas. Foi basicamente facilitar o ambiente para eles trabalharem e sair do caminho para não os atrapalhar”, disse Damon.
A madre superiora é interpretada pela atriz britânica Emily Watson. “Logo que li esse roteiro, percebi que estava adiante de uma das grandes oportunidades de minha carreira”, disse ela, lembrando a cena em que conversa com Cillian Murphy no convento.
“Na superfície, é uma conversa muito tranquila, mas há camadas em que se revela o pior da humanidade e acredito que pessoas de muitas religiões e culturas diferentes vão se identificar com o que acontece, de não serem aptas de quebrar o que lhes é imposto”, afirmou Watson.
Inspirado em casos reais, o filme é dedicado às mais de 10 mil mulheres que foram obrigadas a parir e doar seus bebês pela instituição católica no transcurso de sete décadas.
“Para mim, o motor do filme sempre foi o luto, a dor do luto. Como não sou irlandês, tive muita ajuda do elenco”, afirmou o diretor Tim Mielants, que se cercou de atores irlandeses como o próprio Murphy e Eileen Walsh, que interpreta a mulher do protagonista.
De fato, Murphy entrega um personagem extremamente incomodado, mas que o demonstra mais com a tristeza que carrega do que com uma luta franca. Desesperançoso, cabisbaixo, como se carregasse um saco de carvão nas costas a todo momento, seu
Bill Furlong exala uma incapacidade de acessar suas próprias emoções em uma Irlanda fria, suja e empobrecida.
Murphy e Damon foram ainda duas atrações do tapete vermelho e da abertura que aconteceu na noite de quinta, antes da estreia mundial do filme, no Berlinale Palast. Os apresentadores brincaram com a dupla enquanto, no palco do evento, coisas mais sérias eram ditas.
A Berlinale, como o evento é conhecido, causou furor ao desconvidar cinco políticos do partido político de extrema direita Alternativa para a Alemanha após pressão do meio artístico pelas redes sociais. O convite de deputados eleitos de todos os partidos é uma tradição do evento, mas, num momento em que o aumento da popularidade da extrema direita assusta parte dos alemães, o desconvite foi bastante comemorado.
Em seu discurso na abertura, a codiretora do festival Mariëtte Rissenbeek falou ainda da Guerra da Ucrânia e do conflito Israel-Hamas, afirmando que um festival como esse precisa se posicionar e defender direitos humanos e minorias. Ela foi bastante aplaudida.
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Fonte: Uol