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Mais uma na onda de séries e filmes sobre o universo da moda que tomam as telas, “The New Look”, produção da Apple+ sobre nascimento da Dior, tem a moda apenas como pano de fundo. Ao menos é isso que pregam os produtores-executivos Todd Kessler, autor de “Bloodline”, e Lorenzo di Bonaventura.
Kessler afirma que, antes de ser uma narrativa que escrutina a fundação da maison francesa, a série, que se passa nos anos 1940, é sobre “as escolhas que os personagens foram obrigados a fazer durante a ocupação nazista de Paris”.
Boa parte da série antecede a criação da casa Dior, em 1947. Ali, a guerra havia acabado e, com ela, o governo Vichy e a ocupação nazista de Paris, que durou quatro anos. “Dior deliberadamente queria trazer a beleza de volta depois de uma guerra devastadora”, afirma Ben Mendelsohn, vencedor do Emmy de ator coadjuvante por “Bloodline”, em 2016, e ator de Christian Dior na nova série.
Esse anseio por tempos melhores espelhava o passado recente sinistro de Dior. Durante a guerra, Dior e outros designers famosos, como Pierre Balmain, trabalhavam para a maison Lucien Lelong, vivido por John Malkovich, que não fechou suas portas e se manteve vendendo vestidos para as mulheres e namoradas dos nazistas.
Com o dinheiro dos belos vestidos usados em bailes nazistas no Ritz parisiense, Dior sustentava a irmã Catherine, papel de Maisie Williams, a Arya de “Game of Thrones”, integrante da Resistência francesa. Não sem motivo, Mendelsohn descreve seu personagem como uma pessoa ansiosa.
Foi esse caldo de drama humano e história que atraiu Kessler para a narrativa. Ele diz ter conhecido a história do fundador da grife, Christian Dior, em 1997, ano em que se celebrava o cinquentenário da coleção de estreia da marca. “Eu conhecia a marca, mas não sabia nada sobre ele”, diz.
A trama ganha um contorno importante com a presença de Coco Chanel, vivida por Juliette Binoche. O papel de Chanel como colaboracionista com o regime nazista costuma ser mencionado aqui e ali na história da moda, mas “The New Look” faz dela uma personagem essencial para a compreensão do próprio Christian Dior.
“Chanel se sentia traída pela leitura que Dior fazia da moda. Ela achava que tinha quebrado o padrão, e tinha mesmo, e que ele trazia de volta esse padrão. É uma competitividade da moda. A personagem de Chanel ajuda a definir Dior também pelos olhos dela”, diz Di Bonaventura.
O padrão a que se refere o produtor-executivo é o chamado “new look” de Dior. O termo batiza a série e define o visual que o estilista quis vender depois dos horrores da guerra, baseado em cinturas bem marcadas e saias volumosas. Tudo que o Chanel quis abolir nos anos 1920 com a proposta à la garçonne de suas silhuetas soltas e comprimentos curtos.
O impacto da estilista era gigantesco na França. “Antes da guerra, Chanel era a estilista que mudou o comportamento e a mentalidade. Ela se livrou do corset, cortou o cabelo, inventou o Chanel nº 5. Na guerra, ela decidiu fechar sua loja. Ela tinha 4.000 costureiras, isso é muito”, diz Juliette Binoche.
Mendelsohn avalia que a designer continua dominante —por bons motivos. “Ela é uma sobrevivente, assim como Dior. Mas eles são pessoas diferentes, com qualidades diferentes. Não acho interessante julgar e não é isso que estamos fazendo”, diz. Para ele, a série quer mostrar como é se movimentar num mundo em que as escolhas importantes não são óbvias. “Isso é muito universal”, afirma.
Apesar das afiliações nazistas de Chanel, ela está longe de ser pintada como uma vilã em contraponto a um mocinho Dior. “A ocupação nazista durou quatro anos. Não é como se, em dois anos, os franceses soubessem que aquilo acabaria. Poderia durar para sempre. Todos estavam tentando sobreviver”, diz Kessler. “É empolgante contar a história de personagens que estão passando por períodos de grande provação.”
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Fonte: Uol