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Foi uma grata surpresa a apresentação da premiada cantora Tracy Chapman na noite de premiação do Grammy Awards. Ao lado do cantor country Luke Combs, que regravou seu clássico “Fast Car”, Chapman entregou a mais linda apresentação da noite e emocionou seus fãs, nostálgicos da sua presença.
A artista, que ao longo de seus mais de 30 anos de carreira e oito álbuns foi agraciada com quatro Grammys, leva uma vida reclusa, com raras aparições públicas —a última foi em um talk show em 2020, quando cantou sua música “Talkin’ Bout a Revolution”, chamando as pessoas para irem votar.
A canção diz “Você não sabe? Estão falando numa revolução, soa quase como um sussurro”. Foi uma das artistas favoritas do revolucionário e primeiro presidente do pós-apartheid na África do Sul, Nelson Mandela, e cantou para ele e para centenas de milhares de pessoas no tributo histórico de 1988.
São inúmeros sucessos autorais ao longo da carreira: “Baby Can I Hold You”, “Give me One Reason”, “The Promise”, entre muitas outras que nos envolvem e magnetizam. Outras interpretações de músicas como “Stand By Me” são consideradas clássicas. Chapman, apesar de todo o sucesso, incluindo seu álbum de estreia, intitulado “Tracy Chapman”, de 1988, decidiu por uma vida longe dos holofotes, o que torna sua aparição recente ainda mais celebrada.
Como admiradora da arte de Chapman, me peguei viajando para a minha adolescência, em que a presença serena dessa artista de voz grave e suave, pele escura e brilhante, embalou meus sonhos e abriu possibilidades de vida. Acho que Chapman nos captura pelo talento e pela ternura. São raras as pessoas que, mesmo falando de revolução, não perdem a ternura jamais.
Eu repostei o vídeo da apresentação em uma rede social e fiquei espantada com a repercussão: já são mais de dois milhões de reproduções. Na maioria dos comentários as pessoas destacam o brilho nos olhos de Chapman, sua doçura e simplicidade. Em tempos de vozes moduladas e de superexposição dos corpos, uma mulher de 59 anos, com seu violão, calça jeans e camisa preta brilhante, seus dreads naturais e grisalhos e voz inconfundível, despertou belos sentimentos e talvez algo que estivesse adormecido em nós.
Algumas pessoas, como eu, rememoram suas adolescências em que o convite de Chapman para a transcendência foi feito. A cantora nos coloca na direção de um carro rápido, que pode nos levar a qualquer lugar junto a ela, sem ter que provar nada a ninguém. Partindo de um lugar social de exclusão de oportunidades, o convite foi uma sublimação para muitas jovens sentirem a magia que a música é capaz de fazer.
Parei de acompanhar os comentários, foram milhares, mas confesso que fiquei feliz por ver que há muitas pessoas desejosas de mais verdade e beleza, de contemplar o encontro, o brilho nos olhos. Ali existia uma aura de magia e encantamento em que a música foi a verdadeira protagonista e fio condutor de uma história de amor que fez um homem da geração de Combs reverenciá-la.
A magnitude do singelo, o que toca, emociona e traz as lembranças de um tempo do qual não devemos esquecer. Como uma pessoa comentou: o simples, quando não simplório, é extraordinário. É mágico poder se deixar levar pela música fechando os olhos e sentindo profundamente cada acorde e letra, que nos fazem viajar pelo tempo e espaço abastecendo nossa alma de alegria.
Nesse tipo de apresentação, o mais importante é sentir, não ver. Bem-aventuradas sejam as artistas como Chapman, que nos permitem isso em tempos de pirotecnia e danças coreografadas; que tocam os corações com delicadeza, acariciam nossas faces com doçura e nos elevam a alma. Não seriam esses alguns dos sentidos da música? Despertar em nós o belo?
O sucesso dessa apresentação é a concretização desse sentido e levou a música “Fast Car” ao topo das paradas depois de mais de 30 anos, além de milhões de reproduções em diversas plataformas, nutrindo de sonhos fãs de longa data e também alcançando um novo público, que vem se apaixonando por essa brilhante artista.
Prova irrefutável de que a boa música resiste ao tempo, pois mesmo quando estamos no desalento em meio a tanta poluição sonora, ela sempre vem nos lembrar que, apesar de tudo, há beleza no mundo.
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Fonte: Uol