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“Jô, você tá bem?”
A mensagem brotou na minha caixa de entrada do Instagram num sábado de manhã. Podia muito bem ser apenas um cumprimento habitual, como tantos que aparecem por ali, invariavelmente acompanhados de algum outro assunto, um convite para algum evento, um pedido de favor, ou uma pergunta sobre qualquer coisa. Mas as palavras que surgiram na tela logo em seguida revelaram um tom bem diferente.
“Notei que você não tem aparecido por aqui e fiquei preocupada.”
A reação imediata foi apaziguar o coração da moça, conhecida minha, com uma mensagem bem humorada, usando a rotina intensa dos últimos tempos para justificar minha temporária ausência de qualquer vida social na rede social.
“Já já eu tô de volta”, afirmei sem pensar duas vezes, como se seguisse um roteiro de frases prontas criadas com o intuito de manter o cliente feliz, mesmo sabendo que não possuem nenhum compromisso com a verdade.
Desliguei o telefone e segui pensando. Em que momento chegamos nesse ponto? Nesse exato ponto em que não postar é sinal de que alguma coisa pode estar muito errada.
No meu caso, a ausência se deu inicialmente por conta da minha longa lista de coisas para fazer. Mas os dias corridos são apenas uma pequena parte do que jaz por trás do meu sumiço das redes. A vida e sua longa lista de exigências naturalmente me obrigou a rever as minhas prioridades e, nesse exercício, depois de algumas semanas postando muito pouco, quase nada, me vi compelida a reconhecer que aparecer nas redes sociais não estava nem perto de entrar no meu top 5.
No começo sofri com uma certa ansiedade decorrente da abstinência. Não porque sentia falta de postar, mas porque me preocupavam os efeitos de não estar ali. O primeiro mandamento dos deuses do Instagram é claro: “O algoritmo castiga quem não publica todo santo dia”.
Mas o sentimento de culpa não durou muito. Rapidamente tive que fazer as pazes com a ideia de que me ausentar por longos períodos de tempo talvez pudesse me fazer perder alguns seguidores. E tudo bem.
Porque o tempo que sobrava —e claro que sobrava algum tempo, mesmo que pouco— eu queria deitar no sofá para ver um filme, ler um livro, cheirar a nuca dos meus filhos enquanto eles dormem. E só. Viver ali aquele momento sem a pressão de ter que registrá-lo para que algumas milhares de pessoas possam vê-lo do conforto das suas horas de almoço, do anonimato de suas reuniões cansativas.
A verdade é que aparecer nas redes sociais perdeu muito do seu apelo para mim. E, por muito tempo, eu não entendi o verdadeiro motivo por trás da minha falta de motivação em dar as caras por ali. Até que, dia desses, me deparei com um post nesta mesma rede social da qual tenho me ausentado que dizia: “Todos nós deveríamos saber menos uns dos outros”. E foi então que a ficha finalmente caiu.
Aos quase quarenta anos, entendi que não estou mais disposta a dividir com o mundo o que só é relevante para mim. Desejo, sim, estar ali, como estou aqui, compartilhando o que penso, o que aprendi, o que considero que possa ser útil para alguém, usando o social da rede social para trocar, falar e ouvir o que o outro tem a dizer. E não para mostrar o ovo mexido que comi pela manhã, a cólica que tive na hora do almoço, ou a cara de sono do meu filho quando ele acorda da sua soneca.
Em tempos de hiperexposição sinto cada dia mais que é importante nos lembrarmos todos os dias que nem tudo precisa ser mostrado. Há coisas e momentos que, pasmem, podem ser só nossos.
Portanto, cara conhecida, fique tranquila. Estou bem. Caso queira mais informações, vamos combinar de tomar um café.
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Fonte: Uol