[ad_1]
Aracaju
“Odeio história de bicha. Pode existir, pode aceitar, mas não pode transformar isso em aula para as crianças. Tenho dez netos, quatro bisnetos e tenho um baita orgulho, porque são tudo macho para cacete”, disse Benedito Ruy Barbosa ao jornal Extra durante a festa de lançamento de sua última novela inédita, “Velho Chico”, em março de 2016.
Mesmo assim, o autor se contradizia. Ele já havia criado um personagem gay, o vaqueiro Zaqueu, alvo de bullying constantes na primeira versão de “Pantanal”. A trama de Zaqueu foi estendida e teve um final feliz no remake assinado pelo neto de Bendito, Bruno Luperi, exibido pela Globo dois anos atrás.
E também houve Buba, uma das figuras mais controversas da “Renascer” de 1993. À época, ainda estava em uso o termo hermafrodita para pessoas que nascem com características físicas, genéticas ou hormonais que não se enquadram nas definições biológicas típicas de masculino e feminino. Hoje, o correto é intersexual, a letra I da sigla LGBTQIA+.
A primeira Buba, interpretada por Maria Luísa Mendonça, tinha os aparelhos genitais feminino e masculino. Havia sido batizada de Alcides quando nascera, mas passou a se identificar como mulher a partir da adolescência. A pedido de seu namorado Zé Venâncio (Taumaturgo Ferreira), ela aceita fazer uma cirurgia para se redefinir anatomicamente como mulher.
Mas agora Buba é uma mulher transexual. Agora vivida por Gabriela Medeiros, Buba se vê obrigada a revelar sua verdade no pior momento possível: quando vai transar pela primeira vez com Zé Venâncio (Rodrigo Simas, na nova versão).
Ainda não está claro se a nova Buba fez uma cirurgia de readequação genital. É bem possível que não tenha, e nem pense em fazer. A nova geração de mulheres trans acha que a operação é uma agressão física grande demais, e prefere manter tudo “de fábrica”. Certa vez, a cantora trans Candy Mell me disse numa entrevista: “não há nada errado com meu corpo”.
Zé Venâncio se horroriza, num primeiro momento. Acha que se transar com uma mulher como Buba, estará se transformando num homem gay. Depois o amor fala mais forte, e ele volta a procurá-la. Mas ainda há um obstáculo considerável pela frente: o patriarca da família, o coronel José Inocêncio (Marcos Palmeira), um ho mem conservador do interior da Bahia e pouco afeito a novidades.
“A Buba ser uma pessoa intersexo na primeira versão foi um assunto muito bem estabelecido, muito bem colocado e que trouxe muitos avanços”, disse Bruno Luperi em entrevista recente. “A necessidade de uma nova leitura sobre aquilo, diante do cenário de hoje, na minha concepção, se mostrou importante. A ideia não é tirar uma questão, mas sim adicionar novas camadas e trazer o assunto da diversidade, o assunto de gênero sob uma nova perspectiva que permita que mais discussões sejam feitas”.
No fundo, o autor está tornando Buba um pouco menos misteriosa e um pouco mais familiar ao público. A intersexualidade é um fenômeno raro: segundo a ONU, entre 0,05 e 1,7% da população mundial é intersexual. Isso daria até três milhões de pessoas no Brasil, mas é um segmento ainda com pouquíssima visibilidade.
Já as pessoas transexuais se tornaram uma constante na nossa TV. Tivemos personagens trans marcantes em novelas recentes como “A Força do Querer” e “A Dona do Pedaço”. A comediante Nany People parece estar em todos os programas. E Maria Clara Spinelli interpreta Renée em “Elas por Elas”, que vem sendo bem-aceita pelo público.
Agora veremos uma mulher trans disputando um homem cis com uma mulher cis. No caso, Eliana, a ex-mulher de Zé Venâncio, feita por Sophie Charlotte. Qual das duas vencerá?
Na versão de 1993, Taumaturgo Ferreira acabou brigando com Benedito Ruy Barbosa, e foi eliminado da novela – seu personagem morre assassinado. Buba então se envolve com um irmão deste, José Augusto, com quem se casa no final.
É mais que provável que Bruno Luperi decida outro destino para Buba. Vamos prestar atenção.
[ad_2]
Fonte: Uol