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Todo ano é a mesma coisa.
Todo ano o Carnaval começa no sábado e acaba na Quarta-Feira de Cinzas, com elástica e purpurinada tolerância para antes e para depois.
Todo ano cai o tapa-sexo de alguma passista na avenida.
Todo ano tem confusão na apuração do desfile das escolas de samba.
Todo ano rende fofoca de traição no camarote dos famosos.
Todo ano algum bloquinho lança alguma tendência de fantasia (ou falta dela), de maquiagem, de comportamento. Todo ano tem a bebida do Carnaval, sempre pior que a do ano passado.
Todo ano o jornalismo divulga essas tendências porque todo ano tem plantão de Carnaval e um monte de espaço para preencher com letrinhas.
Tudo se repete todo ano no Carnaval, então peço licença para me repetir também.
Fui ver o que havia escrito no Carnaval passado. Era a mesma lamúria de sempre. Comida despenca na lista de prioridades nesta época do ano, mas eu preciso escrever sobre comida aqui na Folia de S.Paulo. Ops, Folha.
Carnaval não é tempo de pensar em comida, mas a gente precisa comer e come. Come muito mal.
Carnaval é quando você perde o discernimento.
É quando você manda para dentro a comida mais nojenta do boteco mais nojento, que está sem água e com o banheiro entupido.
É quando você pega uma parasitose que só vai curar na Páscoa –e põe a culpa no café da manhã da pousada.
É quando você passa horas no congestionamento da estrada e se vê obrigado a almoçar o espeto de frango árido do Graal. Ou o pastel de meio metro que o quiosque no litoral frita no sabor quatro óleos.
É quando você se mete a fazer churrasco na casa de praia.
É quando você compra carne de abate clandestino numa sinuca cheia de uns tipos mal-encarados, porque o açougue e o mercado estão fechados. Aí bebe demais e queima a carne já era uma porcaria.
É quando todos os restaurantes da praia estão com gente saindo pelo ladrão, menos um. O mais xexelento deles. E é lá que você vai, meio por falta de opção, meio por falta de noção.
É quando você chuta o balde depois de esperar o prato por três horas no restaurante mais xexelento da praia, vai embora sem comer e com oito litros de cerveja na cachola.
É quando até os restaurantes bons ficam ruins. É quando o cozinheiro não aparece no serviço, o garçom vai cozinhar bêbado e o dono do lugar chama o sobrinho adolescente para servir as mesas.
É quando você examina a geladeira na madrugada e comete as maiores atrocidades culinárias: miojo com doce de leite, brigadeiro com atum em lata.
É quando você passa a semana inteira se alimentando exclusivamente de pão com manteiga na chapa. Porque é quando você só se lembra que precisa comer de manhãzinha, ao voltar para casa da folia.
É quando os amigos da viagem comem toda a sua comida enquanto você está desmaiado na sarjeta.
Todo ano o Carnaval é uma sucessão interminável de furadas. E quer saber? Essa é a graça. Carnaval é caos, é desordem, é risada solta.
Você tem todo o resto do ano para comer bem.
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Fonte: Folha de São Paulo