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No primeiro episódio da 12ª (e supostamente última) temporada de “Segura a Onda”, Larry David é convidado a ir à festa de aniversário de um bilionário sul-africano. Os dois nem se conhecem. Na verdade, trata-se da chamada “presença VIP”, uma prática cada vez mais comum no Brasil.
Larry será regiamente bem pago para, durante algumas horas, se misturar aos convidados, posar para selfies e tratar a todos com cortesia.
Aí que mora o problema. Desde que se tornou rico, Larry desaprendeu a ser cortês. Para que se fingir de gentil, quando é mais fácil dizer a verdade, doa a quem doer? Que se danem todos!
O Larry David de “Segura a Onda” é uma versão turbinada do Larry David real, que de fato enriqueceu com “Seinfeld”, um dos maiores sucessos da TV americana na década de 1990. Ele e o comediante Jerry Seinfeld criaram uma série, estrelada por este último, que teoricamente seria sobre nada. Mentira: Jerry e seus amigos agiam sempre da maneira mais egoísta possível. Eram punidos, mas nunca se emendavam.
Um dos personagens de “Seinfeld” era George Constanza, papel de Jason Alexander, eternamente nervoso e inseguro. Larry sempre disse que George era baseado nele mesmo, com os mesmos tiques e manias de seu criador.
“Seinfeld” terminou em 1998. Apenas dois anos depois, Larry David estava de volta ao vídeo, escrevendo e estrelando “Segure a Onda” na HBO. Escrevendo é força de expressão —a série não tem roteiro propriamente dito. As tramas de cada episódio são indicadas aos atores, que improvisam seus próprios diálogos. O resultado é um tipo de interpretação naturalista raro no universo da sitcom.
O Larry de “Segura a Onda” tem pouco a ver com George Constanza. Como sempre, o dinheiro muda tudo. Agora o protagonista vive numa mansão em Los Angeles, passa os dias jogando golfe e só trabalha muito de vez quando.
“Segura a Onda” manteve um ritmo regular de temporadas até 2011. Longos seis anos se passaram até que uma nova safra viesse à luz. O contrato de Larry David com a HBO permite que ele trabalhe só quando tenha vontade.
A estrutura da série mudou um pouco ao longo desses 24 anos. No começo, diversas subtramas se juntavam no final dos episódios, que eram mais ou menos estanques. Agora as temporadas têm o chamado arco, uma história que percorre todos os capítulos. Também não há mais a preocupação de reunir as várias tramas para um desfecho apoteótico.
Quem não mudou nada foi o próprio Larry. Ele continua ranzinza, sem o menor prurido de confrontar as convenções sociais.
O protagonista tem a habilidade de se cercar de pessoas chatas e depois não conseguir mais de livrar delas. Suas nêmesis atuais são duas. A jovem atriz María Sofía Estrada, vivida por Keyla Monterroso Mejía, não tem talento nenhum e é uma das pessoas mais folgadas do planeta. Mas conseguiu se tornar a verdadeira estrela da série “Young Larry”, que conta as peripécias de Larry David na juventude.
Já a insuportável Irma Krotowski, feita por Tracey Ullmann, é uma conselheira municipal que Larry decide namorar só para aprovar uma lei que o beneficiaria.
A grande ironia é que Larry abriga em sua mansão Leon Black, encarnado por J. B. Smoove, que recebeu guarida temporária por ter tido sua casa destruída pelo furacão Katrina, que arrasou Nova Orleans em 2005.
Quase 20 anos se passaram e o sujeito continua lá, levando uma vida de nababo graças a seu anfitrião. Larry, sempre em alerta para não ser passado para trás por ninguém, simplesmente não se dá conta de que hospeda um parasita.
Os fãs vão se deleitar com as brigas homéricas por causa de pequenos mal-entendidos, uma das marcas registradas da série. Mas também há um certo cansaço no ar —algo inevitável depois de 12 temporadas, feito que poucas sitcoms conseguem.
Mesmo assim, “Segura a Onda” ainda é mais engraçada do que 90% das séries de humor. Não será surpresa se, daqui a alguns anos, ela voltar para mais um round. Os problemas de Larry David com o resto da humanidade estão longe de terminar.
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Fonte: Uol