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O Grammy deste ano foi palco de algumas primeiras vezes. Deu a Miley Cyrus o troféu inaugural de sua carreira, levou a cantora de country Lainey Wilson à vitória, premiou a colombiana Karol G, que engrandeceu a música latina no palco, e ainda laureou a cantora SZA, que antes só tinha ganhado uma estatueta ancorada na vitória de outra artista.
Apesar disso, a 66ª edição do Grammy atesta que a premiação ainda faz muito barulho para pouco, coroando os mesmos artistas de sempre.
Taylor Swift saiu premiada e enaltecida, com mais dois troféus para a conta, incluindo o mais importante, de álbum do ano, no centro das atenções dos votantes e dos artistas, que tratavam ela como uma deusa. Fora de Los Angeles, onde ocorreu o prêmio, a histeria foi parecida —Swift fervilhou as redes sociais ao anunciar um novo disco, roubando as atenções para si, como de praxe.
A premiação foi previsível num geral. Deu um troféu óbvio a Billie Eilish pela letra de “What Was I Made For”, da trilha sonora de “Barbie”, que é mesmo uma das suas mais belas. Outra vitória esperada foi a de Miley Cyrus com gravação do ano pelo megahit “Flowers”, faixa mais tocada do mundo no Spotify no ano passado.
Artista pop mais relevante da sua geração, Eilish se repetiu ao dizer que não merecia o prêmio, imitando a pose de modesta que vem fazendo ao receber seus oito troféus nos últimos. Mas a piada não cola mais —poucos chegam aos 22 anos com tanto prestígio.
Cyrus ao menos deu mais frescor aos discursos neste ano. Ela, que nunca venceu um prêmio, apesar da carreira consolidada, levou sua língua solta aos microfones, dizendo que esqueceu de vestir calcinha para receber o troféu.
O Grammy até tentou se mostrar mais diverso ao laurear a colombiana Karol G com melhor álbum de música urbana. O problema é que o a categoria soa deslocada em meio a tantas dedicadas à música pop —prêmios considerados de nicho, como os de rock, R&B e música africana, foram dados antes da exibição oficial, que começou no Brasil às 22h.
A impressão é que o Grammy só quis fazer bonito com Karol G, aproveitando do seu sucesso meteórico para se esquivar das críticas de que só premia americanos e britânicos.
É preciso mencionar também a miopia em relação a artistas negros, ainda relegados às categorias de nicho, com um ou dois nadando contra a maré para disputar nas principais —neste ano, papel de SZA.
Ainda que contentes, pessoas negras premiadas cutucaram a branquitude da premiação. Jay-Z protagonizou o momento mais quente da noite ao atacar a premiação no palco, segurando o prêmio Dr. Dre Global Impact Award, que homenageia a carreira de grandes artistas.
“Amo todos vocês, e estamos tentando fazer o certo, ou quase certo. É subjetivo, afinal estamos falando de música. Não quero constrangê-la”, disse ele apontando para sua mulher Beyoncé, “mas ela tem o maior número de troféus do Grammy [na história] e nunca levou álbum do ano. Não faz sentido.”
“Alguns de vocês vão hoje para a casa com a sensação de terem sido roubados, e alguns foram mesmo. Outros nem pertencem a nenhuma categoria”, disse ele, sugerindo que o prêmio tem seus preferidos. “Mas esqueça o Grammy por um momento, e continuem se mostrando. Até que recebam o que pensam que merecem.”
Não é a primeira vez que ele zomba da premiação. “Mande o Grammy se ferrar com essa bosta de oito nomeações e zero vitórias/ você já viu uma plateia ir à loucura?”, ele canta em “Apeshit”, do álbum “Everything Is Love”.
Quem também causou rebuliço nesta noite foi o rapper Killer Mike, que saiu de lá com três estatuetas de rap, dadas antes da exibição da premiação principal. “Isso é o que acontece quando uma pessoa branca faz música preta com pessoas pretas”, disse ao agradecer um dos produtores de “Scientists & Engineers”, com a qual ganhou melhor música de rap.
Seu deboche durou pouco, porém. O artista foi preso no meio da premiação, e saiu de lá algemado pela polícia de Los Angeles às 16h. Ainda não há mais informações sobre o ocorrido.
A 66ª edição do Grammy serviu pelo menos para homenagear grandes nomes da música, como Joni Mitchell, que fez bela apresentação, Lionel Ritchie, que deu as caras para entregar um prêmio, e Billy Joel, que volta com inédita após dez anos. Teve espaço até para Meryl Streep, que entregou o prêmio de gravação do ano com um discurso bem-humorado.
Outro bom momento ocorreu quando Jon Batiste cantou “Ain’t No Sunshine” em homenagem a artistas mortos no último ano, entre eles a brasileira Rita Lee, que teve seu rosto exibido no telão da premiação.
Entre os shows, se destacam o gingado cada vez melhor de Dua Lipa, o sussurro hipnotizante de Billie Eilish, e a performance desinibida de Cyrus. As artistas deram brilho à noite, que poderia ter sido só enfadonha.
Trevor Noah também acertou com uma apresentação dinâmica, interativa e com boas sacadas. Um dos pontos altos foi sua zombaria ao TikTok, que acaba de perder músicas de Taylor Swift e de vários outros artistas por causa de uma briga mal-resolvida com a gravadora Universal Music.
O comediante tirou tempo para rir de Swift, fazendo piada da sua capacidade única de movimentar a economia dos lugares por onde passa com sua megaturnê “The Eras Tour”. A considerar que agora ela é recordista na categoria álbum do ano, com quatro vitórias, parece que seu poderio está longe de minguar.
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Fonte: Uol