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Ary Fontoura faz parte da memória afetiva de milhões de brasileiros. Quase todos nós crescemos vendo-o na TV, compondo tipos marcantes em incontáveis novelas da Globo.
Prêmios e aplausos nunca faltaram ao “seu” Ary, ao longo de mais de 70 anos de carreira. Mesmo assim, sua fama deu um salto desde que ele abriu um perfil no Instagram, uma sugestão de seu assessor Rodrigo Oliveira. Hoje o ator acumula mais de 5,5 milhões de seguidores, que se divertem com suas postagens diárias.
Algo parecido se deu com a atriz americana Betty White, que estreou na TV em 1949. Durante sete décadas, ela participou de dezenas de programas. Pelo menos dois deles têm enorme importância histórica: “The Mary Tyler Moore Show” (1973-1977), a primeira sitcom em que a protagonista era uma mulher solteira e sexualmente ativa, e “Super Gatas” (1995-1982), a primeira sitcom em que as protagonistas era senhoras da terceira idade.
Betty White sempre desfrutou de muito prestígio, mas só se tornou uma unanimidade nacional por volta de 2010, quando foi descoberta por uma nova geração. De uma hora para a outra, a atriz foi alçada à posição de pessoa mais “cool” do mundo, e passou a ser convidada para tudo.
Não dá para dizer que foi um fenômeno 100% espontâneo, porque nos EUA sempre há uma agência de relações públicas por trás das grandes estrelas. A súbita popularidade de Ary Fontoura tampouco caiu do céu. Foram seus impagáveis vídeos no Instagram que lhe conquistaram milhões de novos fãs.
Mas claro que a história desse imenso ator não se resume às palhaçadas que ele protagoniza na web. O documentário “Tributo – Ary Fontoura”, escrito por Isadora Wilkinson e Lalo Homrich, dirigido por Matheus Malafaia e recém-chegado ao Globoplay, condensa em uma hora a incrível trajetória desse paranaense.
Ary conta que nasceu numa família pobre e que pensou em estudar Direito, mas o chamado da arte foi mais forte. Começou a trabalhar no rádio ainda adolescente, e logo percebeu que Curitiba era pequena demais para suas ambições. Chegou ao Rio de Janeiro numa data nefasta: 31 de março de 1964, o dia do golpe militar que resultaria numa ditadura de mais de 20 anos.
“Tributo” é entremeado por depoimentos de colegas, como Betty Faria, Beth Goulart, Claudia Raia e Elizabeth Savala. Klebber Toledo e Camila Queiroz afirmam que ele agiu como um cupido para o casal, nos bastidores da novela “Êta Mundo Bom!” (2016). Todos são unânimes em apontar a generosidade de Ary, que sempre tratou com a maior consideração mesmo os atores mais inexperientes.
Que o diga Mariana Ximenes, que contracenou com ele pela primeira vez em “Chocolate com Pimenta” (2003-2004), quando tinha apenas 22 anos de idade. O documentário mostra uma visita que ela faz à casa de Ary no bairro carioca do Recreio dos Bandeirantes, e os dois se emocionam ao recordar as vezes em que trabalharam juntos.
O que emerge de “Tributo” é um ator, acima de tudo, extraordinariamente corajoso. Ary não teve medo de encarnar o primeiro personagem gay da TV brasileira, Rodolfo Augusto, na novela “Assim na Terra como no Céu” (1970-1971). Era xingado e agredido quando saía à rua, mas não se arrepende de nada.
“Seu” Ary também se jogou sem rede à internet. Ele não hesita em aparecer dançando ao som de “Macetando”, hit de Ivete Sangalo e Ludmilla, nem em se fantasiar de mulher da maneira mais tosca possível – sem nunca esconder o vasto bigode branco, é claro.
É essa disposição em abraçar coisas novas que faz de Ary Fontoura uma pessoa antenada aos 91 anos recém-completos. Em dia com o resto do mundo, às vezes até um pouco à frente. O tempo dele é agora.
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Fonte: Uol