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Antes dos colonizadores portugueses aportarem no litoral brasileiro, os indígenas já estavam lá. É sobre uma mensagem anticolonial de pertencimento ao território que se desenha o pavilhão do Brasil na próxima Bienal de Veneza, a principal exposição de arte contemporânea do ano, que começa em abril na cidade italiana.
Três artistas indígenas com trabalhos sobre resistência foram selecionados pela Fundação Bienal de São Paulo para ocupar o espaço do país nos Giardinni, onde ficam as representações nacionais —Glicéria Tupinambá, Olinda Tupinambá e Ziel Karapotó.
O anúncio dos nomes foi feito nesta terça-feira pelos três organizadores do pavilhão —todos também representantes dos povos originários—, que deram entrevistas na sede da Fundação Bienal, em São Paulo, com os rostos e os braços pintados com motivos indígenas e usando adereços de penas.
Glicéria vai apresentar duas instalações feitas com o povo tupinambá dos territórios da Serra do Padeiro e Olivença, no sul da Bahia. Uma será composta por redes de pesca, conhecidas como tarrafas, e um manto de penas que está em processo de confecção.
A outra instalação também terá redes de pesca, acrescidas de um vídeo com registros de oficinas de transmissão de saberes dos mais velhos para os mais jovens, atividades como fazer canoas e ir atrás de troncos para reconhecer o território.
Glicéria ficou conhecida em 2023 por ter confeccionado um outro manto tupinambá, que está percorrendo museus e universidades no Brasil. Como parte de sua pesquisa das tradições de seu povo, a artista escreveu onze cartas para os museus no mundo que tem exemplares de mantos ancestrais em suas coleções —as missivas, nas quais ela pede as peças emprestadas para que sua comunidade possa ver, também serão expostas no pavilhão em Veneza, junto às respostas das instituições.
Olinda, cineasta e ativista baiana da terra indígena Caramuru, vai mostrar uma videoinstalação sobre a questão ambiental e a reivindicação do território pelos povos tupinambá e pataxó. Para tanto, ela usa a metáfora da Kaapora, entidade que governa as matas segundo a cosmologia das comunidades de sua região.
Por fim, o alagoano Ziel Karapotó vai apresentar a instalação “Cardume”, um trabalho que reflete sobre a antiga relação de seu povo com o rio Boa Cica. A obra também se estrutura em torno de redes de pescar, que serão preenchidas com maracás, um instrumento indígena que lembra o chocalho, e com projéteis de armas, numa tentativa de abordar o genocídio indígena.
Denilson Baniwa, um dos organizadores, lembra que os três artistas convidados são de estados litorâneos, lugares em que os indígenas tiveram o primeiro contato com os colonizadores. Portanto, a intenção do pavilhão é a de “usar a arte como meio de educação e luta política”, ele afirma.
Os organizadores decidiram rebatizar o pavilhão brasileiro para Pavilhão Hãhãwpuá, termo na língua patxohã que significa “o grande território atualmente apelidado de Brasil”, de acordo com Arissana Pataxó, outra das responsáveis pela exposição. Ela diz que esta é uma forma para as pessoas saberem que o país também tem nomes indígenas.
Ao serem questionados sobre como as obras do pavilhão se relacionam com o tema da Bienal de Veneza, “Foreigners Everywhere”, ou estrangeiros em todos os lugares, Baniwa afirma que os indígenas eram e ainda são considerados inexistentes dentro de seus próprios territórios. Ele menciona o povo tupinambá, que só foi reconhecido pelo Estado como vivo em 2001 —eles eram considerados extintos.
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Fonte: Uol