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Recentemente, um conhecido compartilhou nas redes sociais algo que muito me indignou. Após semanas de ausência, feito Ulisses de volta a Ítaca, foi recepcionado por seu Argos caramelo, que correu heroico e feliz a seu encontro.
Momento deveras emocionante. Chuva de emojis de coraçãozinho. No entanto, pausei a imagem e reparei que, junto à porta, discreto e silencioso, já estava o gato da família. Ignorado pelas curtidas.
É fato que a internet faz muito pelos felinos, sempre brilhando na ribalta dos memes. De Schrödinger a Shrek, foi um longo caminho. Deles nasceu o mais experimental dos gêneros cinematográficos, conhecido como “vídeos de gatinhos”. Fellini e Glauber —os pets de um amiga— representam essa vanguarda no Instagram.
Offline, a vida é outra. Aliás, todas as sete. São saltimbancos incompreendidos que já nascem pobres, mas não pop. Nos dicionários, seguem sinônimo de ladrões. Gatunos, mesmo quando têm ficha mais limpa do que suas caixas de areia.
A concorrência também não ajuda. De que adianta a altivez de seus antepassados egípcios, enterrados com pompa junto aos faraós, se a resposta à doçura melodramática da Lassie é a sarcástica pança de lasanha do gato Garfield?
Basta que se conte sobre a lealdade do cão Hachiko à espera do falecido dono e, pronto, a esperteza do Mandachuva vai para a casa do caramba. De nada serve a maleta
de utilidades do Gato Félix.
É por isso que todo fã dos felídeos torna-se advogado da causa bichana, trocando seus honorários por roçadinhas na perna. Dedicamos nossas vidas a provar que, sim, eles são tão legais —às vezes até mais, com perdão aos labradores fofos— quanto doguinhos. Quem me ensinou isso foi Nicolau.
Com a força de um amor que derruba barreiras e acaba com o estofado de qualquer poltrona, Nico transmutou a cachorreira convicta que me habitava.
Foram 16 anos de terna convivência, todo dia me esperando chegar. Miando feio ao pedir comida e carinho.
Amamentando sem leite os seus filhotes, só pelo aconchego, como muitos pais humanos não fazem. Aninhando-se a meus pés quando eu precisava de um calor quase humano.
Não, gatos não são os melhores amigos do homem. Eles são como o homem, em versão melhorada. Basta ter boa vontade e coração aberto, meritíssimo. Além de um rolinho removedor de pelos sempre à mão.
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Fonte: Uol