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Fátima Pissarra trabalha há 25 anos nos mercados de tecnologia e comunicação, mas diz que só agora, quando virou alvo de ataques pela associação de sua agência Mynd com perfis de fofocas associados à morte de uma jovem, se deu conta de como a falta de regulação da internet pode destruir reputações.
“Eu não sabia que era uma terra sem lei nesse nível”, diz a executiva à Folha.
Na entrevista, por videochamada, Pissarra afirma que a Mynd ganha dinheiro vendendo publicidade e que 100% do conteúdo dos perfis dos seus contratados, tanto de pessoas como de notícias, são criados por eles.
Algumas chaves para conhecer melhor a executiva estão no livro “Profissão Influencer: como fazer sucesso dentro e fora da internet” (Harper Collins Brasil), lançado em 2022.
Pissarra dedica o livro “a todas as pessoas que acreditam que são influenciadoras, (…) a todos aqueles que acreditam que podem conquistar (…), a todos que não querem dormir, a todos que têm sede de acontecer e transformar o mundo”.
Entre muitas dicas, a autora defende basicamente que “somos todos contadores de histórias”, “somos todos comunicadores e influenciadores em essência”. E recomenda: “Tudo é monetizável. Isso mesmo, dá para vender tudo. Até a sua história. Não tenha medo de vender conteúdo, ser criativo e criar um bom storytelling para contar quem é você”.
Se contratos com governos são uma parcela ínfima do faturamento da Mynd, por que têm associado vocês ao PT?
Se você fizer uma análise no casting da Mynd, tem mais pessoas de esquerda. Por si próprias. Não é a gente que manda ser de esquerda ou de direita. Tem pessoas de direita também. A gente nunca cerceou liberdade de expressão. Jamais falaremos para o nosso agenciado que ele vai vender menos se ele se posicionar.
Mas na classe artística você tem mais pessoas de esquerda. Eu não tenho nada a ver com isso. E essas pessoas votam em quem elas querem. Eu não sei se por conta disso foi visto assim, olha, um conglomerado unido de pessoas de esquerda.
Acha que pode ter relação também com a política de diversidade que você ressalta tanto?
Com certeza. A gente recebeu muitos ataques em agenciados nossos, trans, que lutam por bandeiras LGBTQIA+: “Olha, a Mynd apoia pessoas trans, que coisa horrorosa”. Então, a gente foi muito atacada nesse período também pelas causas que a gente abraça.
A sra. diz que não tem controle sobre o conteúdo dos agenciados, mas esse caso mostrou mais uma vez que ocorrem publicações cruzadas, em manada, por vários dos perfis agenciados. Como evitar isso? Não acha que isso é um problema?
A notícia já é assim desde que o mundo é mundo, né? Quando você ia no salão que tinha Caras, Contigo, todas as capas eram a mesma notícia, lembra? Chegava ao salão era aniversário da Xuxa, casamento do não sei quem, eram sempre as mesmas notícias, porque era o que as pessoas queriam saber.
Eu vim do jornalismo. Então eu sei que a notícia é a notícia que as pessoas têm interesse em ler. Eu acredito que os perfis replicam as notícias que geram engajamento.
Um segundo ponto muito importante: quando lança um batom que todo mundo quer usar, todas as influenciadoras fazem “publi” desse batom, em massa, o negócio virou queridinho, todo mundo fala disso. São hábitos normais que o influenciador usa para engajamento.
O algoritmo do Instagram é quem faz isso virar uma máquina em que todo mundo está falando. A gente fez uma análise em alguns perfis de agenciados nossos, olhando os posts que têm mais engajamento. A maioria são posts sobre o mesmo assunto.
Esse caso traz lições, que podem mudar algo nesses perfis? E faz algum mea culpa?
Não tem nem como a gente ter uma mea culpa sobre isso porque a gente tem zero interferência.
A gente desenvolveu há três anos um código de ética para que isso não aconteça, [dizendo] que as notícias têm que ser validadas. A gente tem um time de ética dentro da empresa que fornece informações para agenciados e vai abastecendo quem pede.
Esse caso pode moldar ou alterar no mercado de maneira geral, não só para a Mynd, mas diretrizes, regulação?
Espero que ocorra um divisor de águas, principalmente na questão de legislação, né, porque o que eu vi com esse caso, que me deixou mais chocada, é como as pessoas podem inventar fake news, em série, sobre alguém, sobre uma empresa e saírem 100% ilesas.
Assim, eu vou inventar o que eu quiser, eu vou inventar que a Mynd é dona do Choquei e dane-se que a Mynd soltou um comunicado que não é dona do Choquei, dane-se, eu não leio, eu não olho, eu não quero saber, eu vou inventar uma mentira e eu vou ficar falando ela repetidamente, estou pouco me danando.
Isso para mim é muito absurdo, porque eu não sabia que era uma terra sem lei nesse nível.
Acha que a sra. e a Mynd estão sendo vítimas de algo que alguns desses perfis acabam praticando?
Com certeza. Eu acho que a gente está sendo vítima de fake news que esses perfis que estão postando sobre a gente praticam.
Mas alguns perfis da Banca Digital que a sra. agencia também não praticam?
O que já tivemos até hoje de investigação é o Garoto do Blog. Nós nunca tivemos denúncia de fake news investigada de qualquer outro perfil.
E como eu fico sabendo? Caso haja uma investigação. Nesses casos, a gente afasta imediatamente.
Fátima Pissarra, 46
Nascida em Curitiba e radicada em São Paulo, é formada em jornalismo e psicologia. Trabalhou em várias empresas (Claro, BCP, Terra, Nokia e Vevo) até criar, em 2012, a Music2, representante da Vevo no Brasil. Em 2017, com o publicitário Carlos Scappini, fundou a Mynd, que se tornou a maior agência de influenciadores do país, com faturamento de R$ 350 milhões por ano. Foi indicada ao prêmio Caboré, um dos principais da publicidade, como dirigente da indústria de comunicação em 2021 (não ganhou, mas a Mynd sim, em 2019, na categoria Serviço de Marketing)
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Fonte: Uol