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Geral do Povo é a nova cria de Geraldo Luís e Marlene Mattos na RedeTV!, programa de auditório que estreou tímido no Ibope na noite de domingo, embalado por apelos nostálgicos —como um “revival” da Banheira do Gugu, com barrigas e bundas à mostra, pessoas com nanismo no palco, câmeras invadindo a plateia, apresentações musicais ao nível de Chacrinha— e um ou outro momento de sensibilidade, quase involuntários.
Afinal, a entrevista com Babi Cruz, mulher do cantor Arlindo Cruz, que vive debilitado desde 2017 após um AVC, seria banida ou severamente cortada em qualquer outra emissora na mesma faixa horária pelo teor da conversa.
O espanto nas redes sociais foi geral, com usuários dizendo que preferiam nunca ter visto ou ouvido o relato de Babi, sobre como Arlindo, em suas palavras, gozou na fralda geriátrica enquanto ela se estimulava e relembrava, com ele, momentos picantes entre os dois.
“Que presentão!”, comemorou ela ao ver a pulsante prova de vida e de consciência, que veio apenas pela força da palavra e da memória. Babi diz que seguiu fazendo isso, por recomendação médica. O resultado dos estímulos se mostravam, depois, na presença de espermatozoides no exame de urina.
O depoimento, dado a um Geraldo Luis impassivo, como um psicanalista, desde a sacada de um apartamento, pareceu um lampejo de sinceridade num programa que quis apelar para toda sorte de elementos popularescos para repercutir.
Questionarão se é ético expor a intimidade de um homem com deficiência dessa forma em rede nacional. Vide o agito das redes sociais do sambista, com fotos e relatos de seus filhos, bastante transparentes sobre a dificuldade nos cuidados de Arlindo, parece que sim.
E que, como ensina a vida real, a beleza pode, sim, brotar dos fluidos corporais e de tabus como a sexualidade de idosos ou pessoas com deficiências —o que as reações nas redes parecem corroborar.
É um tom diferente do higienismo —muitas vezes combinado com elitismo ou espetáculo— que parece ter tomado conta do tom dos programas de auditório, inclusive em relação à participação popular nas telas.
Basta lembrar como Faustão e Silvio Santos souberam discutir, sem pudores e com tom amigável, questões como “quanto tempo você dura na hora H?” no horário nobre.
Não faltaram repercussões negativas, como um relato que encerrou um episódio da novela “Páginas da Vida”, em 2006, quando Nelly da Conceição, uma empregada doméstica de 68 anos, lembrou ter descoberto o prazer sexual ouvindo os discos de Roberto Carlos.
A sinceridade do depoimento causou grandes problemas a ela, que perdeu o emprego após a edição de um depoimento de mais de uma hora que deu ao diretor Jayme Monjardim.
O gesto de dar espaço a Babi Cruz, porém, não redime a postura de Geraldo Luís, já fartamente conhecido por fazer entrevistas apelativas com figuras do imaginário popular fora dos holofotes.
Ainda na Record, em 2019, ele visitou Zé do Caixão, que morreria no ano seguinte. Foi um gesto simpático, com mais de meia hora no Domingo Show, mas com excessos como um tom bajulatório e cenas em que Geraldo Luís alimentava o cineasta na boca.
Se o grotesco faz parte do seu procedimento, a aliança com Marlene Mattos —mais do que cancelada após os depoimentos no documentário de Xuxa para o Globoplay— parece ter revivido um ânimo um tanto perdido nas telinhas recorrendo à nostalgia —ainda que antiquada.
Mattos, com seu jeito durão e sem papas na língua, parece ter comandado com pulso firme um programa que colecionou erros técnicos —faltou luz durante uma apresentação, com vários segundos no escuro, antes de cortarem para os comerciais—, mas se aproveitou do caos inventivo do ao vivo, cada vez mais raro.
É o que falta ainda, por exemplo, no Programa do João, na Band, que ainda ensaia assumir o formato entre quadros mornos.
No caso do Geral do Povo, o trocadilho infame do título populista pode ganhar contornos nobres se, olhando para as verdades “do povo”, souber reconhecer, entre suas três horas de duração, belezas escondidas que faltam na nossa televisão.
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Fonte: Uol