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“Godzilla Minus One” é o 32º filme do amálgama japonês de baleia, dinossauro e dragão cujo vômito atômico aniquila as quiméricas obras humanas. Na aparência, o bichaço é o general Hamilton Mourão melhorado. Na alma, é Bolsonaro escarrado; só falta falar “no tocante”.
Em “Minus One”, ao falhar mais uma tentativa de dar um chega para lá no peçonhento, que ressuscita assanhadérrimo, um milico diz “que criatura persistente”. Faz sentido: somando seriados de TV e adaptações de Hollywood, mais de 50 Godzillas já espalharam perfídia e mau hálito.
O galalau nasceu há 70 anos. Encarnava o trauma causado pelas bombas nucleares com que a Casa Branca, sempre bondosa, incinerou 210 mil japoneses. Servia de imagem para o envenenamento da natureza pelos vírus tóxicos de uma ciência que gera anomalias perenes.
Como a era atômica ainda vige, e é escoltada pela crise climática e as guerras em Gaza e na Ucrânia, o monstro está todo pimpão. Mas seu apelo principal é a nostalgia. Quando um “Godzilla” passava no cine Joia, na Liberdade, a trilha sonora de Akira Ifukube fazia ninho no inconsciente. Madalena musical, ela recupera dias irremediáveis em “Minus One”.
“Os Três Mosqueteiros: Milady” tenta a todo custo dourar a aventura de capa e espada de Alexandre Dumas com o brilhareco de temas contemporâneos. É uma superprodução com roupas, castelos e cavalos corpulentos. Contudo, a montagem, acelerada e retalhada como de um videoclipe, aniquila qualquer chance entendimento da história e da estória.
O filme destrata Milady de Winter, a pérfida vilã do romance, no qual é julgada, condenada e executada sem piedade. Ela é representada por Eva Green, uma linda atriz que não dá uma dentro. De “Sin City” a “Cassino Royale”, especializou-se em burocratizar vamps venenosas.
“O Melhor Está por Vir” é o “Oito e Meio” de Nanni Moretti. Como no filme de Fellini, o protagonista é um cineasta em crise que faz um filme para exorcizar seus fantasmas. Filme dentro de filme é dose e, como ator, Moretti não chega aos pés de Marcello Mastroianni.
O filme de ficção encenado por Giovanni —nome real de Nanni Moretti— se passa em 1956. Convidado por uma célula do Partido Comunista Italiano, um circo húngaro está em Roma quando tropas soviéticas afogam em sangue a revolta popular em Budapeste.
O filme toca num nervo inflamado de quem foi e continua socialista, rumina os equívocos do passado e execra a chochice da esquerda de hoje. Giovanni é um mamute, um ranheta cujo azedume é acentuado pela atuação enfadonha de Moretti.
“O Melhor Está por Vir” é um filme de e para velhos. Na última sequência, uma passeata de Moretti e sua alegre trupe saúda Marx e Trotsky, cruza Roma rumo a um radioso e rubro porvir. É uma bonita fantasia. E acrítica. E escapista.
“Priscilla”. Perdão, Sofia Coppola, mas um homem de princípios não passa nem na porta de um cinema onde se exibe um filme sobre Elvis Presley. Tudo tem limite.
“Minha Irmã & Eu” é o contrário dos filmes anteriores. Enquanto eles estão presos no passado, que lhes tolhe o alcance, a comédia com Ingrid Guimarães vira as costas para a história, dá um triplo mortal carpado e —tchibum!— despenca com estardalhaço no presente nacional.
É um filme desengonçado que vira do avesso estereótipos caros ao papo-furado nacional. O Rio fabuloso do samba, sol e mar é um covil de celebridades e assessoras onde não se sabe se Lázaro Ramos é mais ou menos ególatra que a criadinha que cuida de seus gatos, Tatá Werneck.
O interior da Goiás do agronegócio é uma terra tacanha de donas de casa aborrecidas, adolescentes mimados, funcionários públicos letárgicos e vaqueiros espertalhões.
“Minha Irmã & Eu” é de um feminismo bruto. O marido de Mirian (Ingrid Guimarães) é um cuecão no qual ela põe cornos assim que cai na estrada. Seu primeiro amante, um boiadeiro bombado, lhe rouba o carro depois de uma noite de fuque-fuque febril. Ela nem liga, vai em frente.
A cidade estava vazia no feriadão; o cinema, cheio. A maioria da plateia era de mulheres, que riam de se engasgar das piadas escrachadas. Há algo de esfuziante no cinema, e ele tem nome: Ingrid Guimarães.
Enquanto a mudanças na imagem de Xuxa e Angélica parecem obra de um comitê de marqueteiros, Ingrid intui e se arrisca. Fez teatro, novelas, filmes, séries, discos, dirigiu um documentário sobre humor, “Viver do Riso”, escreveu um livro e uma peça. A grandona já levou mais de 20 milhões de pessoas ao cinema.
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Fonte: Uol